São Paulo, sábado, 8 de setembro de 2012

CAFUNÉ

Pérola, a porca

CLARICE REICHSTUL
COLUNISTA DA FOLHA

Pérola, a porca, chafurda na lama.
Pérola, a porca, toma banho de chuveiro. Pérola, a minha porca, é bela e rosada. Ela nasceu à noite, na minha cabeça e lá ficou entalada.
É que eu tive uma insônia e a tal da porca não me saía da cabeça nem a paulada. Eu tentava dormir, rolava de um lado para o outro e nada de a porca sair.
A safada não me abandonava, não sei direito por que, mas eu estava vidrada. Na porca, a Pérola, que não queria dizer tchau nem "bença", não queria balançar o lencinho para mim da estação, vendo-me partir no trem do sono tranquilo, ah, isso ela não queria não! Pérola, ô porca, não suja a mesa! Só quer saber de talos frescos, de leite batido no liquidificador.
O Benjamim diz que pérola é uma pedra redondinha e brilhante que fica no mar, eu perguntei para ele se eu podia ter uma porca chamada Pérola.
Ele pensou e pensou e disse que sim, mas onde ela está? Tá na minha cabeça, bem aqui em cima, chegou ontem à noite e nunca mais saiu. Pegou o lugar dos micos do sótão, brigou com as minhas caraminholas, interditou o comboio do sono e me deixou ali, sem dormir nem nada. Só consegui deitar de manhãzinha, acho que ela se cansou da mudança e foi dormir. Pérola, a porca, bonita e cansada.

Texto Anterior | Índice


Copyright Folha Online. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página
em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folha Online.