São Paulo, sábado, 20 de novembro de 2010

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Histórias quilombolas

Povo conta que dona de escravos malvada virou uma serpente

GABRIELA ROMEU
ENVIADA ESPECIAL A SÃO MATEUS (ES)

No tempo em que a noite era iluminada só por lamparinas e vagalumes, os mais velhos contavam histórias de uma mulher malvada, dona de escravos, que virou uma enorme serpente.
Dona Luzinete dos Santos Nascimento era menina quando ouvia falar sobre o tal "bicho ruim, que vivia acorrentado". "Quando a serpente dava um esturro, botava uma unha pra fora. E uma só unha era do tamanho de uma enxada."
Falando baixinho, ela puxa da memória as histórias que contava sua tia-avó, Ana Carvalho, filha de Clara, negra que viveu no tempo da escravidão.
Por medo ou tristeza, nem sempre a tal serpente é lembrada na comunidade de São Cristóvão, no interior de São Mateus (ES), onde vive um dos grupos quilombolas (descendentes de escravos).
Mas a memória do povo de lá é viva das tradições de seus antepassados. Nas casas de farinha, por exemplo, fazem deliciosos beijus. Vez ou outra uma moça crescida lembra como era brincar com boneca feita de mandioca, braços de gravetos e olhos de pimenta.
"Tenho orgulho de ser quilombola e conhecer a história do meu povo", conta Clarice Tomaz dos Santos, 11.

QUILOMBOLA
Quilombo vem da palavra "kilombo", da língua africana quimbundo. No Brasil, quilombos eram agrupamentos (vilas com poucas ou muitas casas) de negros que lutaram contra a escravidão. Já quilombola é quem descende daqueles que resistiram nos quilombos.

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