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      São Paulo, quinta-feira, 01 de janeiro de 2004
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QUÍMICA

Contra a química, não há azia que resista

LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Fim de ano é sempre igual: festas e mais festas. Churrasco da firma. Ceia de Natal. Almoço de Ano Novo. Peru, tender, lombo assado, pernil. Tudo regado a muita cerveja e champanhe. Fora os doces: quindão, brigadeiro, panetone... Chega! Resultado: azia na certa! Calma, a química está aí para ajudá-lo.
A azia é causada pelo excesso de ácido clorídrico (HCl) no estômago. Esse ácido é necessário para que ocorra a digestão. Ele é forte, por isso o pH do estômago é bem baixo -próximo de 1 (lembre-se: quanto mais baixo o pH, maior a acidez), isto é, há 0,1 mol de H+ por litro de solução -condição essencial para o bom funcionamento das enzimas digestivas.
Quando a gente come demais, o HCl pode acabar atingindo o esôfago. É daí que vem a queimação. Nessa hora, os antiácidos entram no jogo. Eles podem ser bases fracas, como os hidróxidos de magnésio (Mg(OH)2) e o de alumínio (Al(OH)3). Por apresentarem o ânion OH- na sua constituição, elas neutralizam o cátion H+ liberado pelo HCl (H+ + OH- H2O). Assim, com o H+, o verdadeiro culpado pela queimação, transformado em água pelos ânions OH-, adeus, azia.
Alguns antiácidos, como o sal de frutas, não contêm bases na sua formulação, mas sais, como o bicarbonato de sódio (NaHCO3). Pode um sal combater a acidez? Dependendo do sal, sim. Veja só a reação: HCl + NaHCO3 NaCl + H2CO3. Aí você pode pensar: mas de que adianta trocar um ácido (HCl) por outro (H2CO3)? Acontece que o H2CO3 é instável e se decompõe: H2CO3 H2O + CO2. Viu só? No estômago, sobra água e NaCl (sal de cozinha). Nenhum dos dois têm caráter ácido. E o CO2 é o gás carbônico, que vai embora e... Bom, você sabe o que acontece depois de tomar sal de frutas...
Na verdade, a saída de CO2 já começa no momento em que você dissolve o sal de frutas na água. Isso acontece porque, na formulação desse antiácido, existe um pouco de ácido cítrico. É sempre assim: um ácido qualquer reage com os bicarbonatos, liberando CO2, o que causa a efervescência.
Agora, um desafio (respostas via e-mail): quantos tabletes de 600 mg, com 72,5% da massa em Mg(OH)2, único antiácido presente, uma pessoa deve tomar para aumentar o pH do estômago de 1 para 2 (considere um volume de meio litro de suco gástrico)?


Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail: lula5@ig.com.br


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