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HISTÓRIA
Da autonomia artística à independência política
ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O descobrimento do ouro em
Minas Gerais no início do século 18 deu início a uma fase de
grandes transformações na
colônia. Com a notícia da descoberta, houve uma grande migração para a região.
Como os exploradores se dedicavam integralmente à procura
do ouro, outras regiões da colônia
tiveram de cumprir o papel de
abastecer os povoados que foram
surgindo na zona mineradora.
Com isso, criou-se na colônia
uma rede de relações comerciais
que se constituiu no embrião de
uma integração econômica até
então inexistente.
Do ponto de vista social, as técnicas relativamente simples de
obtenção do ouro permitiram aos
homens livres pobres a oportunidade de ascender na hierarquia
social e melhorar de vida, algo impensável na época da economia
açucareira, pois a produção do
açúcar exigia um alto investimento inicial.
Entre todas as conseqüências,
talvez a mais relevante se tenha
materializado no plano da cultura
e ficou conhecida como o barroco
mineiro. A grande riqueza acumulada nas cidades de Minas, como São João del-Rei e Ouro Preto,
permitiu o surgimento de uma
sociedade de sensibilidade refinada cuja expressão pode ser notada
na arquitetura das igrejas, na pintura e na escultura sacra.
A grande quantidade de encomendas de obras criou um mercado de trabalho para artesãos de
origem humilde, como Antônio
Francisco Lisboa, o Aleijadinho,
que, com sua habilidade e criatividade, operou uma mudança de
atitude do mais alto significado
para a história da nossa cultura.
Apesar de se inspirar numa expressão artística tipicamente européia, Aleijadinho não se limitou
a copiar as referências externas,
mas introduziu modificações no
padrão da arquitetura e das esculturas a ponto de torná-las absolutamente originais, criando um tipo de arte barroca que não se confunde com nenhum outro.
A colônia começava a antecipar
no plano da cultura uma vontade
de autonomia, que não demorou
a produzir resultados no plano
político. O surgimento de manifestações culturais com "cores"
locais demonstra que muitos habitantes da colônia não mais se reconheciam como simples herdeiros da tradição européia e lusitana
e ajuda a compreender por que foi
na região de Minas que começou
a gestação do primeiro movimento que propunha a separação política de Brasil e Portugal.
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As
Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e
professor no Colégio Rio Branco e na
Universidade Grande ABC.
E-mail: roberson.co@uol.com.br
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