UOL

      São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2003
  Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESTUDANTES ESPECIAIS

APESAR DE REPRESENTAREM 13,3% DA POPULAÇÃO, ELES FORAM 0,065% DOS INSCRITOS NA FUVEST

Deficientes são menos de 1% dos inscritos nos grandes vestibulares do país

Juca Varella/Folha Imagem
Tatiana Rolim, que contou toda a sua experiência depois do acidente que sofreu aos 17 anos no livro "Meu Andar sobre Rodas"


ANDRÉ NICOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de a população brasileira ter cerca de 13,3% de pessoas com algum tipo de deficiência física, visual ou auditiva, segundo o Censo 2000, a porcentagem de inscritos que pediram condições especiais nos grandes vestibulares é muito mais baixa.
No último exame da Fuvest, apenas 105 dos mais de 160 mil inscritos (0,065% do total) fizeram as provas em condições diferentes porque possuíam alguma deficiência. Na Unicamp e na Unesp, a porcentagem foi ainda menor: 0,049%. No Enem, dos mais de 1,8 milhão de inscritos, (Exame Nacional do Ensino Médio), apenas 0,066% fizeram a prova em condições especiais.
Essa baixa presença no ensino superior, segundo especialistas, é reflexo da precariedade do atendimento a essas pessoas desde as primeiras fases da educação, além da falta de informação dos pais e de toda a sociedade.
Segundo dados do Censo 2000, 39% das crianças entre sete e 14 anos com deficiência física permanente não vão para a escola. Entre os deficientes visuais, a porcentagem é de 6,7% e, entre os deficientes auditivos, 13,1%.
"Os deficientes precisam de orientação especial desde a escolarização, pois, dependendo do caso, pode dificultar o desenvolvimento da criança. A família tem papel fundamental e, se procurar os recursos necessários cedo, a defasagem é menor", disse Tomázia Dirce Peres Lora, da Faculdade de Educação da USP.
Camila Gravato Correa da Silva, 20, por exemplo, não enxerga desde que nasceu e, já na pré-escola, recebeu tratamento adequado. Quando tinha cinco anos, seus pais contrataram um professor para acompanhá-la nas aulas de alfabetização para que pudesse aprender braile.
Ao ingressar no ensino fundamental, ela foi para uma escola pública que possuía uma sala com recursos específicos. Já no ensino médio, ela estudou em um colégio comum. Hoje, ela está no segundo ano de direito no Mackenzie.
"A desinformação é pior com pessoas de baixa renda, que às vezes nem chegam à escola primária porque os pais pensam que eles não têm condições. As barreiras do deficiente são facilmente removidas com recursos educacionais", disse Maria Lúcia Toledo Moraes Amiralian, professora de psicologia da USP e diretora de atendimento da fundação Dorina Nowill, para deficientes visuais.
Para José Rafael Miranda, conselheiro do Conade (Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência), nos últimos anos, o nível de informação sobre os problemas enfrentados pelos deficientes melhorou, mas ainda são necessárias campanhas de conscientização. "Nós fomos programados para viver em um mundo perfeito. Não sabemos lidar com as pessoas diferentes."
A psicóloga Juliana Vilas Boas também concorda que as coisas melhoraram. Segundo ela, passou-se de uma visão assistencialista ou que pretendia isolar o deficiente para uma de inclusão social. "Até há um tempo, eles não tinham identidade profissional. A cadeira de rodas acabava sendo a principal identificação dessas pessoas", disse ela.
Júlio Kazuhiro Teruyo, 17, por exemplo, cursa o primeiro ano de rádio e televisão na UniSant'Anna e, apesar de ter amputado a perna esquerda após receber um tiro quando estava na oitava série, disputa campeonatos de tênis de mesa contra pessoas sem problemas motores. Por ser atleta e não por ter deficiência, Teruyo pretende conseguir uma bolsa de estudo na faculdade.


Texto Anterior: Deficientes vencem dificuldades e são aprovados
Próximo Texto: Psicóloga deixa Hospital das Clínicas para poder fazer prova
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.