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VALE A PENA SABER
MATEMÁTICA
Nota zero para teste que tenta enganar consumidor
JOSÉ LUIZ PASTORE MELLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A doença de Alzheimer é uma
das mais freqüentes patologias
de demência entre os idosos. Seu
principal sintoma é a perda de
memória e de habilidade motora
e a confusão mental. Não há um
teste clínico específico que estabeleça de modo inquestionável a
doença de Alzheimer, a não ser
um exame patológico por meio de
biopsia do tecido cerebral.
Aproveitando o razoável desconhecimento da população a respeito desse fato, uma empresa do
Arizona (EUA) colocou recentemente no mercado americano, ao
preço de US$ 19,95, um teste para
detectar problema de memória
associado à doença de Alzheimer.
O teste consiste em um conjunto de 12 tiras com aromas de óleo,
de rosas, de alho e de limão. Ele
recomenda que o consumidor,
após cheirar uma a uma as 12 tiras, consulte um médico se errar a
identificação do cheiro de quatro
ou mais tiras. Poucos argumentos
matemáticos são suficientes para
indicar a má-fé do fabricante. Admitindo que uma pessoa saudável
consiga identificar corretamente
80% dos cheiros a que é submetida, vamos calcular qual seria a
probabilidade de o teste indicar
equivocadamente que essa pessoa
pode ter doença de Alzheimer.
Considerando por hipótese que
a identificação do cheiro de cada
uma das 12 tiras constitui um
evento independente e que a distribuição de probabilidades
seja binomial, se chamarmos de
p(12), p(11), p(10) e p(9) as probabilidades de uma pessoa identificar corretamente os cheiros
de 12, 11, 10 ou 9 tiras respectivamente, podemos dizer que a probabilidade T de o teste recomendar equivocadamente uma consulta ao médico será dada por
T=1-[p(12)+p(11)+p(10)+p(9)".
Para ilustrar o uso do método
binomial, recordemos o cálculo
de p(10). Sendo 80% a probabilidade de identificar corretamente
um cheiro (20% a de errar), a
chance de acertar o cheiro de 10
entre 12 fitas será dada por:
p(10)=C12,2.(0,8)10.(0,2)2, em que C12,2 é a combinação de 12 elementos agrupados três a três. No modelo estudado, o método binomial nos diz genericamente que P(x)=C12,x.(0,8)12-x.(0,2)x. Se o leitor fizer os cálculos com cuidado, irá encontrar T=1-0,795, ou seja, T=0,205, o que implica dizer que o teste erra em 20,5% dos casos.
Não fosse esse um argumento razoável para invalidar o teste, vale ressaltar que problemas de identificação equivocada de odores podem não ter relação com
Alzheimer. Por exemplo, sabe-se que fumantes são menos sensíveis
à identificação de odores, independentemente de possuírem ou
não predisposição à doença.
José Luiz Pastore Mello é professor de matemática do ensino médio do Colégio Visconde de Porto Seguro
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