São Paulo, quinta-feira, 05 de setembro de 2002
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AMEAÇA AMARELA

Brincadeira entre alunos é "preconceito positivo"

ESTEREÓTIPO NÃO DEVE LEVAR VESTIBULANDO A TEMER CONCORRÊNCIA COM "ORIENTAIS"

Raphael Falavigna/Folha Imagem
PAI ORIENTAL Nelson Hiromiti Tanaka e a filha, Renata, que faz arquitetura na USP. Além dela, um dos filhos estudou na USP e o outro está no ITA. "A educação dos filhos foi a prioridade dos investimentos da casa. Eles sempre corresponderam e são estudiosos"

DA REPORTAGEM LOCAL

Os vestibulandos costumam dizer que não passa de brincadeira a idéia de que os estudantes de origem asiática conquistam mais vagas nas melhores universidades. Mas o mito pode causar ainda mais expectativa em quem já está bastante preocupado com a concorrência no vestibular.
"Depois de olhar a lista de aprovados e perceber que há muitos nomes orientais, decidi que tinha de estudar mais", disse Douglas Duarte Muniz, 18, que quer estudar engenharia e resolveu se esforçar mais nas aulas, assim como Marcelo Koga, 19, que vai concorrer a uma vaga no mesmo curso.
Essa espécie de preconceito positivo em relação aos orientais, segundo Zeila de Brito Fabre Demartini, professora de educação da Universidade Metodista e da Unicamp, tem origem na chegada dos primeiros imigrantes ao Brasil. "Eles planejavam retornar ao país depois de melhorar seu padrão de vida. A educação era uma das formas encontradas por eles para se inserir e ascender na sociedade brasileira da época."
Com o passar das gerações, os imigrantes acabaram assimilando hábitos brasileiros e, muitas vezes, a valorização do estudo diminuiu, mas a imagem formada naquela época permaneceu.
"A dedicação ao estudo, muito intensa nas primeiras gerações, acabou formando o estereótipo", disse Marcos Ferreira Santos, professor de antropologia da educação da USP. É por isso, segundo ele, que a convivência muitas vezes acaba com a idéia de que o oriental é mais estudioso.
"No colegial, eu achava que eles eram mais inteligentes, mas, no cursinho, percebi que somos iguais", disse Everton Santos, 19.
O fator cultural pode caracterizar a maneira como alguns descendentes de orientais estudam. Segundo o professor Santos, eles costumam valorizar a disciplina, a ordem e a concentração. "Nós [ocidentais], quando estudamos, ouvimos música e nos expomos a outras fontes de dispersão. O oriental concentra-se totalmente no estudo."
Antes de se deixar levar pelo preconceito e temer a concorrência, o vestibulando deve aprimorar os estudos e manter a autoconfiança. "Não sou daqueles que acham que os "japoneses" vão roubar minha vaga. Isso depende da confiança que a pessoa tem em si mesma. Se ela não estuda, imagina que os orientais sejam mais inteligentes", diz Eduardo Abbud, que prestará para medicina.


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