São Paulo, terça-feira, 07 de novembro de 2006
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GRAMÁTICA

Sobre o pronome sujeito

ODILON SOARES LEME
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma das perguntas mais recorrentes, por parte dos que desejam falar e escrever corretamente e, é claro, por parte dos vestibulandos, diz respeito ao emprego de para mim e para eu.
A resposta sempre procura explicar que, em para mim, a preposição rege diretamente o pronome oblíquo mim, enquanto em para eu a preposição diz respeito a toda a oração que vem a seguir, da qual o sujeito é o pronome do caso reto eu.
Quando se diz "É difícil para mim ler textos em alemão", temos o sujeito "ler textos em alemão" e o predicado "é difícil para mim", onde o para mim é complemento do adjetivo difícil. O mim nada tem a ver com o verbo ler. Já em "Para eu ler textos em alemão, preciso de um dicionário", o pronome eu é o sujeito do infinitivo ler, o que fica claro quando se desenvolve a oração: "Para que eu leia textos em alemão, preciso de um dicionário".
A regra prática, então, pode ser a seguinte: só se diz "para eu + infinitivo" quando essa expressão pode ser substituída por "para que eu + subjuntivo", ou seja, "para eu ler" = "para que eu leia". O pronome sujeito deve ser, de ordinário, do caso reto.
Mas aí surge um problema: Por que, então, se diz que "Deixe eu dizer uma coisa" é frase errada? O pronome eu não é o sujeito de dizer?
Para entender, vamos lembrar, ou aprender, uma regra muito importante: quando um verbo no infinitivo depende de um verbo causativo (fazer, mandar, deixar) ou sensitivo (ver, ouvir, sentir), seu sujeito deve ser pronome átono (me, te, o, a, nos, vos, os, as).
Por isso não se deve dizer "Deixe eu dizer uma coisa", mas "Deixe-me dizer uma coisa". Por isso, também, não é do padrão culto "Eu vi ele sair", mas "Eu o vi sair" ou "Eu vi-o sair".
É inegável, porém, que, na linguagem do dia-a-dia, vem-se tornando cada vez mais raro o emprego dos pronomes átonos o, os, a, as. Já não surpreende a ninguém que, no escritório, um chefe com curso superior diga: "Se o "boy" já chegou, mande ele aqui", ou "mande ele vir aqui".
Mas o vestibulando deve saber que, no padrão culto, a construção exigida é "Se o "boy" já chegou, mande-o aqui", ou "mande-o vir aqui". A diferença é que, em "mande-o aqui", o pronome o é objeto direto de mande, enquanto em "mande-o vir aqui", o pronome o é o sujeito do infinitivo vir.


ODILON SOARES LEME é professor do Anglo, responsável pela vinheta "S.O.S. Língua Portuguesa" da rádio Jovem Pan e autor de "Tirando Dúvidas de Português" e de "Linguagem, Literatura, Redação" (Editora Ática)


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