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GRAMÁTICA
Sobre o pronome sujeito
ODILON SOARES LEME
ESPECIAL PARA A FOLHA
Uma das perguntas mais
recorrentes, por parte dos que
desejam falar e escrever corretamente e, é claro, por parte
dos vestibulandos, diz respeito
ao emprego de para mim e para
eu.
A resposta sempre procura
explicar que, em para mim, a
preposição rege diretamente o
pronome oblíquo mim,
enquanto em para eu a preposição diz respeito a toda a oração que vem a seguir, da qual o
sujeito é o pronome do caso
reto eu.
Quando se diz "É difícil para
mim ler textos em alemão", temos o sujeito "ler textos em
alemão" e o predicado "é difícil
para mim", onde o para mim é
complemento do adjetivo difícil. O mim nada tem a ver com o
verbo ler. Já em "Para eu ler
textos em alemão, preciso de
um dicionário", o pronome eu é
o sujeito do infinitivo ler, o que
fica claro quando se desenvolve
a oração: "Para que eu leia textos em alemão, preciso de um
dicionário".
A regra prática, então, pode
ser a seguinte: só se diz "para
eu + infinitivo" quando essa expressão pode ser substituída
por "para que eu + subjuntivo",
ou seja, "para eu ler" = "para
que eu leia". O pronome sujeito
deve ser, de ordinário, do caso
reto.
Mas aí surge um problema:
Por que, então, se diz que "Deixe eu dizer uma coisa" é frase
errada? O pronome eu não é o
sujeito de dizer?
Para entender, vamos lembrar, ou aprender, uma regra
muito importante: quando um
verbo no infinitivo depende de
um verbo causativo (fazer,
mandar, deixar) ou sensitivo
(ver, ouvir, sentir), seu sujeito
deve ser pronome átono (me,
te, o, a, nos, vos, os, as).
Por isso não se deve dizer
"Deixe eu dizer uma coisa",
mas "Deixe-me dizer uma coisa". Por isso, também, não é do
padrão culto "Eu vi ele sair",
mas "Eu o vi sair" ou "Eu vi-o
sair".
É inegável, porém, que, na
linguagem do dia-a-dia, vem-se tornando cada vez mais raro
o emprego dos pronomes átonos o, os, a, as. Já não surpreende a ninguém que, no escritório, um chefe com curso
superior diga: "Se o "boy" já
chegou, mande ele aqui", ou
"mande ele vir aqui".
Mas o vestibulando deve saber que, no padrão culto, a
construção exigida é "Se o "boy"
já chegou, mande-o aqui", ou
"mande-o vir aqui". A diferença
é que, em "mande-o aqui", o
pronome o é objeto direto de
mande, enquanto em "mande-o
vir aqui", o pronome o é o sujeito do infinitivo vir.
ODILON SOARES LEME é professor do Anglo,
responsável pela vinheta "S.O.S. Língua Portuguesa" da rádio Jovem Pan e autor de "Tirando
Dúvidas de Português" e de "Linguagem, Literatura, Redação" (Editora Ática)
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