São Paulo, terça-feira, 08 de maio de 2007
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ATUALIDADES

Boris Ieltsin e o fim da URSS

ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Formalmente a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) deixou de existir em 25 de dezembro de 1991 com a renúncia de Mikhail Gorbachov, o pai da perestroika. Mas a verdadeira pá de cal sobre o antigo império soviético ocorreu no dia 19 de agosto de 1991, quando o então presidente da Federação Russa, Boris Ieltsin, conclamou seus compatriotas à resistirem ao golpe de Estado contra Gorbachov, presidente da URSS.
Os golpistas, burocratas e generais de linha-dura, tramavam interromper as reformas políticas (glasnost e perestroika) para restabelecer o monopólio comunista. Gorbachov, que ascendeu ao poder em março de 1985, fora preso e mantido incomunicável em sua casa de campo. Ieltsin, ex-prefeito de Moscou e recém-eleito presidente da Federação Russa, impediu o golpe e sacramentou o fim da URSS.
Temeroso de que a crise desencadeasse movimentos separatistas no interior da antiga URSS, Ieltsin propõe ao "núcleo eslavo" (Rússia, Ucrânia e Belarus) a formação da CEI, a Comunidade dos Estados Independentes. Formada por 12 das antigas repúblicas -exceto as bálticas, Letônia, Estônia e Lituânia-, a CEI garantiu a Moscou o monopólio sobre a antiga União Soviética. Líder de atitudes polêmicas, Ieltsin, o "czar" da nova Rússia, foi para a guerra contra os tchetchenos em 1994 para mantê-los na Federação Russa.
República autônoma do Cáucaso, a Tchetchênia possui uma população em torno de 1 milhão de muçulmanos. Depois do plebiscito realizado em agosto de 1991, os tchetchenos declararam sua independência. Irredutível, Ieltsin ordenou a intervenção militar destruindo Grozni, a capital, e causando a morte de mais de 20 mil tchetchenos. Moscou nunca reconheceu sua independência e a questão permanece indefinida. Boris Ieltsin, que morreu em abril, permaneceu à frente da Rússia até dezembro de 1999.
Político imprevisível e folclórico, será lembrado pela defesa da democracia que impediu o retorno dos comunistas ao Kremlin, pela aceleração do processo de privatização da economia e pelos arroubos "ultra-reformistas" que reduziram o velho império soviético às ruínas de uma democracia precária, controlada por máfias e mergulhada num mar de corrupção. Mas, para seus inimigos, será lembrado por comentários indiscretos e sucessivas gafes, sempre embaladas por uma boa dose de vodca.


ROBERTO CANDELORI é professor do Colégio Móbile. E-mail: rcandelori@uol.com.br


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