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ATUALIDADES
Boris Ieltsin e o fim da URSS
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Formalmente a URSS (União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas) deixou de existir em
25 de dezembro de 1991 com a
renúncia de Mikhail Gorbachov, o pai da perestroika.
Mas a verdadeira pá de cal sobre o antigo império soviético
ocorreu no dia 19 de agosto de
1991, quando o então presidente da Federação Russa, Boris
Ieltsin, conclamou seus compatriotas à resistirem ao golpe
de Estado contra Gorbachov,
presidente da URSS.
Os golpistas, burocratas e generais de linha-dura, tramavam interromper as reformas
políticas (glasnost e perestroika) para restabelecer o monopólio comunista.
Gorbachov, que ascendeu ao
poder em março de 1985, fora
preso e mantido incomunicável
em sua casa de campo. Ieltsin,
ex-prefeito de Moscou e recém-eleito presidente da Federação Russa, impediu o golpe e
sacramentou o fim da URSS.
Temeroso de que a crise desencadeasse movimentos separatistas no interior da antiga
URSS, Ieltsin propõe ao "núcleo eslavo" (Rússia, Ucrânia e
Belarus) a formação da CEI, a
Comunidade dos Estados Independentes. Formada por 12 das
antigas repúblicas -exceto as
bálticas, Letônia, Estônia e Lituânia-, a CEI garantiu a Moscou o monopólio sobre a antiga
União Soviética.
Líder de atitudes polêmicas,
Ieltsin, o "czar" da nova Rússia,
foi para a guerra contra os
tchetchenos em 1994 para
mantê-los na Federação Russa.
República autônoma do Cáucaso, a Tchetchênia possui uma
população em torno de 1 milhão de muçulmanos. Depois
do plebiscito realizado em
agosto de 1991, os tchetchenos
declararam sua independência.
Irredutível, Ieltsin ordenou a
intervenção militar destruindo
Grozni, a capital, e causando a
morte de mais de 20 mil tchetchenos. Moscou nunca reconheceu sua independência e a
questão permanece indefinida.
Boris Ieltsin, que morreu em
abril, permaneceu à frente da
Rússia até dezembro de 1999.
Político imprevisível e folclórico, será lembrado pela defesa da democracia que impediu o retorno dos comunistas
ao Kremlin, pela aceleração do
processo de privatização da
economia e pelos arroubos "ultra-reformistas" que reduziram o velho império soviético
às ruínas de uma democracia
precária, controlada por máfias e mergulhada num mar de
corrupção. Mas, para seus inimigos, será lembrado por comentários indiscretos e sucessivas gafes, sempre embaladas
por uma boa dose de vodca.
ROBERTO CANDELORI é professor do Colégio
Móbile. E-mail: rcandelori@uol.com.br
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