São Paulo, quinta-feira, 09 de setembro de 2004
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VALE A PENA SABER

QUÍMICA


"Propaganda enferrujada"

LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

No começo, era apenas um estranho outdoor acinzentado. Não havia imagem ou texto. Poucos dias depois, surgia a propaganda do automóvel A2, da Audi. Parece mágica, mas é pura química!
O outdoor havia sido brilhantemente construído de maneira que o desenho do carro e o slogan fossem feitos de alumínio e o resto da estrutura, de ferro. Mas o ferro, com o passar do tempo, oxida (enferruja), o que o deixa alaranjado. Como o alumínio não sofre essa alteração de cor, o desenho da propaganda se revela.
Acontece que uma consulta à tabela de potenciais de oxidação (E0ox) deixa uma dúvida no ar: se o E0ox (+1,66V) do alumínio é maior que o do ferro (+0,44V), por que só o segundo sofre oxidação? Aqui cabe uma explicação: é o E0ox que mede a inclinação que um metal, por exemplo, tem de se oxidar. Quanto mais alto for esse potencial, maior a tendência de ele ser corroído.
Como toda oxidação é acompanhada de uma redução, surge outra pergunta: quem está se reduzindo? Essa é fácil: o oxigênio do ar! A reação de redução na qual ele conta com a ajuda da umidade do ar é: O2 + 2 H2O + 4 elétrons 4 OH-.
Só que para essa redução acontecer são necessários elétrons, que vêm do ferro! Olhe só a reação global: 2 Fe + O2 + 2 H2O 2 Fe(OH)2. Esse hidróxido de ferro II é um dos componentes da ferrugem.
Mas uma pergunta continua sem resposta: por que o alumínio não é igualmente oxidado? Não se engane: esse metal também sofre, sim, oxidação. Afinal, como vimos, seu E0ox é mais alto que o do ferro. Acontece que, nesse processo, uma camada de óxido de alumínio é formada. Essa substância gruda na superfície do metal formando uma cobertura que acaba protegendo as camadas internas do alumínio de futuros ataques do oxigênio. Quer dizer, o alumínio acaba sendo resistente à ação oxidante do ar.
Era exatamente essa a informação que o outdoor quis passar: sendo a estrutura do Audi A2 toda de alumínio, ela, além de leve, não será corroída pelo tempo. Uau!!


Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail: lula7@terra.com.br


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