FABIO GIORDANO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A revista britânica "Nature" publicou recentemente que uma roedora foi gerada sem a participação de nenhum espermatozóide ou célula masculina. Somente células sexuais femininas (óvulos) foram utilizadas.
Kaguya, como foi batizada, foi criada por cientistas da Universidade de Agricultura de Tóquio a partir da combinação do material genético de dois óvulos numa espécie de partenogênese induzida.
A partenogênese é o termo utilizado para designar o desenvolvimento de um embrião, de qualquer ser vivo, sem a contribuição gênica paterna. São fêmeas que procriam sem precisar de machos que as fecundem. Esse é um tipo de reprodução assexuada.
Ovos partenogenéticos podem gerar exclusivamente fêmeas (fenômeno denominado telitoquia) ou indivíduos dos dois sexos (deuterotoquia ou partenogênese dita cíclica), caracterizando uma alternância mais ou menos regular de gerações sexuadas e de gerações partenogenéticas.
A partenogênese natural trata do desenvolvimento de ovos virgens, não-fecundados, que ocorre tanto em invertebrados quanto em vertebrados, quando o ovo é capaz de se segmentar espontaneamente. Ocorre regularmente em ácaros, cladóceros, pulgões, rotíferos, equinodermas, moluscos, nemátodos e anelídeos e também em certos peixes, batráquios e pássaros. Em mamíferos, só haviam sido registrados casos da partenogênese rudimentar.
No caso da partenogênese induzida, os núcleos dos óvulos de uma camundonga transgênica com o gene IGF-2 ativado (ativação essencial para o desenvolvimento do embrião e que, normalmente, só ocorre na presença dos espermatozóides) foram transferidos para óvulos de camundongas normais.
Dos 457 óvulos com dois núcleos cultivados em laboratório, apenas o que gerou Kaguya cresceu e se dividiu, como se fosse um embrião normal, atestando que a técnica, apesar de inédita, ainda é muito pouco eficiente.