São Paulo, terça-feira, 11 de agosto de 2009
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DEU NA MÍDIA

Honduras e a democracia na América Latina

ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A posição inflexível do presidente norte-americano, Barack Obama, condenando o golpe de Estado em Honduras abre um novo capítulo na história política dos EUA e da América Latina.
Obama, ao declarar o seu apoio ao presidente eleito, Manuel Zelaya, reafirma o seu compromisso com a democracia e rompe uma tradição de apoio norte-americano a ditaduras e governos ilegítimos, no continente.
A tradicional política norte-americana teve seu exemplo mais recente em abril de 2002, durante o golpe militar contra o presidente eleito da Venezuela, Hugo Chávez.
Ao anunciar o afastamento de Chávez, os militares deram posse ao empresário Pedro Carmona. De imediato, o presidente George W. Bush reconheceu o novo governo.
Não fosse o protesto de milhares de cidadãos vindos dos bairros mais pobres de Caracas, Chávez teria sido derrubado com o apoio da Casa Branca.
País com um longo histórico de golpes militares, Honduras conquistou certa estabilidade política a partir dos anos de 1980, sempre com o apoio de Washington. Com a vitória da FSLN (Frente Sandinista de Libertação Nacional) na Nicarágua, em 1979, que derrubou a ditadura Somoza, havia o temor de que o modelo socialista se espalhasse pela América Central num autêntico "efeito dominó".
Alarmado, o então presidente dos EUA, Ronald Reagan (1981-1989), financiou os "contras" (antissandinistas) que a partir de Honduras atacavam a Nicarágua.
Décadas de estreitas relações entre EUA-Honduras culminaram com a assinatura de um acordo bilateral de livre comércio (Cafta, em inglês) em 2006. Razão pela qual Zelaya aposta na pressão da Casa Branca e do presidente Obama para ser reconduzido à Presidência. Zelaya, eleito em 2005 contrariando as determinações do Congresso, decidiu convocar um referendo para mudar a Constituição e aprovar a reeleição. Ao insistir na decisão, contra a orientação da Corte Suprema que proibiu a consulta, o presidente foi preso e expulso do país.
Com o aval das Forças Armadas, assumiu em seu lugar Roberto Micheletti, do Partido Liberal, sob argumento de que "aceita" a missão para proteger a democracia, ameaçada pelo esquerdismo do ex-presidente.
Sob pressão, mas disposto a enfrentar os EUA, Micheletti resiste. Posto no centro do tumulto, o presidente americano agora terá de convencer seus críticos mais intransigentes de que defender a democracia e o retorno de Zelaya não é o mesmo que fazer o jogo de Hugo Chávez e, tampouco, endossar sua revolução bolivariana.


ROBERTO CANDELORI é professor do colégio Móbile

rcandelori@uol.com.br


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