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PORTUGUÊS
Classificação de orações nem sempre é eficaz
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O estudo tradicional das orações
coordenadas e subordinadas,
ainda apegado à nomenclatura
gramatical, nem sempre dá o devido destaque às relações semânticas mais sutis. A ânsia de enquadrar as tantas possibilidades de
expressão em um sistema fechado
leva alguns professores a deixar
de lado boa parte das realizações
da língua -justamente aquelas
mais difíceis de "classificar".
Um período como: "Agiu como
criança", apesar de aparentemente simples (contém um só verbo),
na verdade, é composto. A segunda oração, que é o segundo membro de uma comparação, tem o
verbo subentendido ("Agiu como
criança age"). A supressão da palavra referida antes representa
uma economia. É o que, em estilística, se chama zeugma.
Essa é a construção mais freqüente nas orações subordinadas
adverbiais comparativas -a repetição do verbo, também possível, ocorre, sobretudo, quando a
intenção é criar ênfase. Por exemplo: "Trocava de namorada como
trocava de camisa"(!). Nesse caso,
embora o verbo seja o mesmo, os
complementos são distintos, pertencentes a campos semânticos
diversos. A repetição do verbo garante o paralelismo sintático da
frase, enquanto o paralelismo semântico é rompido para que se
obtenha um efeito de estilo.
Em uma construção como: "Ergueu os braços como se fosse
agredi-la", a idéia de comparação
aparece aliada à de condição, o
que se expressa pela seqüência de
conjunções "como se". A esse tipo
de oração chamamos "comparativa hipotética". Nesse caso, também houve uma elipse de termos
subentendidos. Se desdobrássemos o período, obteríamos: "Ergueu os braços como os ergueria
se fosse agredi-la". A oração condicional assimila-se à comparativa e, juntas, subordinam-se à oração principal.
Pares alternativos também podem exprimir noções que extrapolam as idéias de alternância ou
de exclusão. Em um período como: "Quer queira, quer não, nós o
avisaremos", as orações coordenadas alternativas apresentam,
juntas, valor concessivo em relação à terceira oração.
Já num enunciado do tipo: "Ou
você se apressa, ou chegará atrasado", embora as conjunções indiquem relação de alternância,
parece sobressair a idéia de condição, isto é: "Se não se apressar, você chegará atrasado".
As provas de português dos
principais vestibulares do país,
como a da Fuvest, vêm mostrando a necessidade de reformular os
modelos de ensino da língua materna, muitas vezes preterindo a
aferição da nomenclatura gramatical em favor da avaliação da
competência lingüística.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora
de língua portuguesa da Folha
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