São Paulo, terça-feira, 16 de janeiro de 2007
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QUÍMICA

Gás misterioso mata recém-casados

LUIS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Giovane e Elaine tinham acabado de se casar. Menos de 48 horas depois, no dia 2, foram encontrados mortos sem marcas de violência em um motel de Ibiúna, São Paulo. A imprensa divulgou o suspeito: um gás relacionado ao aquecimento da piscina. Algo parecido aconteceu com o tenista Vitas Gerulaitis em 1994. Ele dormia na casa de um amigo, em um quarto vizinho ao sistema de aquecimento da piscina que, defeituoso, produzia muito monóxido de carbono (CO). Morreu envenenado.
O CO mata porque suas moléculas se acomodam na hemoglobina -proteína encarregada de distribuir o oxigênio (O2) pelos tecidos. Incapaz de absorver O2, a vítima morre asfixiada. Importante notar que o CO é um produto da queima do combustível que aquece a piscina. Quando combustíveis feitos de carbono e hidrogênio queimam, além de vapor d'água podem se formar CO ou CO2 -dependendo do fornecimento de oxigênio para a combustão. Um sistema de aquecimento desregulado pode aumentar a produção de CO. Mas o próprio CO2 também pode ser letal.
Um caso curioso é o da "Gruta do Cão", no sul da Itália. Eventualmente, ela é invadida por CO2 gerado por atividade vulcânica. Como esse gás é mais denso que o ar (todos os gases com massas molares maiores que 29g o são; a do CO2 é de 44g), tende a se concentrar próximo ao chão. Resultado: cães, mais baixos que nós, acabam respirando ar contaminado; se não forem pegos no colo, morrem em minutos. O CO2 não é propriamente venenoso, mas ocupa o lugar que deveria ser do oxigênio, causando morte por asfixia.
Será que o casal de Ibiúna morreu como Gerulaitis? Ou um efeito parecido ao da "Gruta do Cão" teria acontecido? Talvez até com um gás diferente do CO2. Sim, porque outros gases também podem "roubar" o espaço do oxigênio nos pulmões, como o gás que queima para aquecer a piscina. Exemplos: gás natural (metano, CH4), gás de botijão (propano, C3H8 e butano, C4H10). Mas, nesse caso, os recém-casados não teriam sentido o "cheiro de gás" que é adicionado exatamente por questões de segurança? Mistério.


LUÍS FERNANDO PEREIRA é químico formado pela USP e leciona no Curso Intergraus. E-mail: lula7@terra.com.br


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