São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
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"Os veteranos descobriam quem denunciava"

DE SÃO PAULO

Aos 17 anos, André Prado passou em engenharia elétrica na Unesp de Guaratinguetá (187 km de SP). Foi morar em uma república, onde sofria assédio moral constante.
Por dois meses, suportou a situação até que decidiu mudar de universidade. Hoje, aos 22, coordena o Trote da Cidadania da Unicamp, onde estuda. Questionada,pela reportagem, a Unesp diz não ter como fiscalizar o que ocorre fora do campus.
A seguir, trechos do depoimento de André ao Fovest:

 

Em 2007, aos 17 anos, passei em engenharia elétrica na Unesp de Guaratinguetá. Nos dois meses em que fiquei lá, sofri com trote violento. Não digo violência física, mas muito assédio moral. Em Guaratinguetá, o trote era fora da universidade, nas repúblicas, que são tradicionais.
Fui chamado para as vagas remanescentes, por isso, quando eu cheguei, as aulas já tinham começado.
Assim que cheguei, conheci um cara na faculdade que me convidou para morar na república dele. Fui visitar a casa e resolvi morar lá.
Os trotes começaram lá na república. A gente morava em 12. Eu era o único calouro.

PULGA E CARRAPATO
Em casa, eu não podia me sentar à mesa da sala nem no sofá. Eles tinham uma cadela weimaraner. Ela era dócil, mas tinha pulga e carrapato. Ela ficava dentro de casa, eu sentava no chão. Conclusão: peguei pulga e carrapato.
A Unesp sempre falou: "Denunciem". Havia um disque-denúncia. Mas, de alguma forma, os veteranos descobriam quem denunciava.
Alguns amigos denunciaram na época, mas os veteranos descobriram, e eles acabavam tomando mais trote ou acabavam excluídos. Não podiam ir às festas, ninguém conversava com eles, eram excluídos do grupo. Tínhamos que sofrer quietos.

VESTIBULAR DE NOVO
Um dia, eu entrei numa aula de que eu não gostava. Eu já estava cheio desses assédios morais, aí eu pensei: "Não quero isso para mim".
Eu voltei para casa [em Marília, a 435 km de SP] e, depois de oito meses de cursinho, passei para engenharia química na Unicamp. Hoje eu sou coordenador-geral do Trote da Cidadania. A base do trote é mostrar a sociedade na qual o calouro está inserido. (PG)


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