São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2008
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VALE A PENA SABER

GEOGRAFIA

A nova face da regionalização Norte-Sul

ARNO A. GOETTEMS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O fim da Guerra Fria deu lugar, na década de 1990, a uma nova forma de dividir o mundo: os desenvolvidos, ou o Norte, e os subdesenvolvidos e "em desenvolvimento", genericamente denominados Sul.
O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e outros dados socioeconômicos confirmam a permanência dessa divisão regional, em que países africanos, asiáticos e latino-americanos aparecem nas últimas posições.
Trata-se de uma realidade construída historicamente, fundamentada nas relações de dependência, dominação e exploração dos países ricos e poderosos sobre os mais pobres.
No plano político, as relações internacionais estão marcadas por discursos a favor da cooperação, principalmente no que diz respeito aos problemas ambientais e socioeconômicos. A prática, entretanto, fica distante das falas, quando não caminha em sentido contrário. Vejamos um exemplo disto: a produção mundial de alimentos.
As "boas intenções" dos países do Norte no combate à fome no Sul ficaram enfraquecidas, nos últimos meses, com a escalada dos preços dos alimentos. A "preocupação" com a fome de milhões de pessoas foi rapidamente substituída pela intensificação das medidas de proteção aos agricultores da Europa e dos Estados Unidos.
Os subsídios dados aos produtores europeus e norte-americanos que, de outra forma, perderiam a concorrência com os produtores de vários países do Sul, contribuem significativamente para a alta dos preços e dificultam os investimentos para aumentar a produção de alimentos em países como o Brasil e a Argentina.
Portanto, as relações de dependência, ainda que muitas vezes disfarçadas pelo rótulo "países em desenvolvimento", persistem e dão as caras em momentos de crise. Para os países desenvolvidos, tem sido mais fácil escolher os biocombustíveis brasileiros, que há pouco elogiavam, como os grandes vilões da fome no mundo. Contraditoriamente, o trigo europeu e o milho norte-americano, dois produtos essenciais para a produção de alimentos, têm sido transformados em biocombustíveis a um custo muito superior ao do álcool brasileiro.
A análise dos acontecimentos recentes e a geopolítica internacional das últimas décadas mostram que discursos e rodadas de negociações como as de Doha, bem como as reuniões dos diversos "Gs" -G4, G8 e G20-, não diminuem o conflito Norte-Sul. Ao contrário, reforçam-no.


ARNO GOETTEMS é professor de geografia do colégio Santo Américo

arno@csasp.g12.br


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