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VALE A PENA SABER
GEOGRAFIA
A nova face da regionalização Norte-Sul
ARNO A. GOETTEMS
ESPECIAL PARA A FOLHA
O fim da Guerra Fria deu lugar, na década de 1990, a uma
nova forma de dividir o mundo:
os desenvolvidos, ou o Norte, e
os subdesenvolvidos e "em desenvolvimento", genericamente denominados Sul.
O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e outros dados socioeconômicos confirmam a permanência dessa divisão regional, em que países
africanos, asiáticos e latino-americanos aparecem nas últimas posições.
Trata-se de uma realidade
construída historicamente,
fundamentada nas relações de
dependência, dominação e exploração dos países ricos e poderosos sobre os mais pobres.
No plano político, as relações
internacionais estão marcadas
por discursos a favor da cooperação, principalmente no que
diz respeito aos problemas ambientais e socioeconômicos. A
prática, entretanto, fica distante das falas, quando não caminha em sentido contrário. Vejamos um exemplo disto: a produção mundial de alimentos.
As "boas intenções" dos países do Norte no combate à fome
no Sul ficaram enfraquecidas,
nos últimos meses, com a escalada dos preços dos alimentos.
A "preocupação" com a fome de
milhões de pessoas foi rapidamente substituída pela intensificação das medidas de proteção aos agricultores da Europa
e dos Estados Unidos.
Os subsídios dados aos produtores europeus e norte-americanos que, de outra forma,
perderiam a concorrência com
os produtores de vários países
do Sul, contribuem significativamente para a alta dos preços
e dificultam os investimentos
para aumentar a produção de
alimentos em países como o
Brasil e a Argentina.
Portanto, as relações de dependência, ainda que muitas
vezes disfarçadas pelo rótulo
"países em desenvolvimento",
persistem e dão as caras em
momentos de crise. Para os
países desenvolvidos, tem sido
mais fácil escolher os biocombustíveis brasileiros, que há
pouco elogiavam, como os
grandes vilões da fome no
mundo. Contraditoriamente, o
trigo europeu e o milho norte-americano, dois produtos essenciais para a produção de alimentos, têm sido transformados em biocombustíveis a um
custo muito superior ao do álcool brasileiro.
A análise dos acontecimentos recentes e a geopolítica internacional das últimas décadas mostram que discursos e
rodadas de negociações como
as de Doha, bem como as reuniões dos diversos "Gs" -G4,
G8 e G20-, não diminuem o
conflito Norte-Sul. Ao contrário, reforçam-no.
ARNO GOETTEMS é professor de geografia do
colégio Santo Américo
arno@csasp.g12.br
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