São Paulo, terça-feira, 17 de novembro de 2009
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DEU NA MÍDIA

O cenário mundial pós Muro de Berlim

Axel Schmidt - 8.nov.2009/AFP
Peças de dominó simulam o Muro de Berlim, em celebração na noite anterior ao aniversário de 20 anos de sua queda

ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Noite inesquecível aquela de 9 de novembro de 1989, quando uma multidão empunhando marretas, martelos e picaretas deu início à derrubada do maior símbolo da Guerra Fria, o Muro de Berlim. Foi um feito memorável daqueles que ousaram desafiar a bipolaridade imposta pela Cortina de Ferro que dividiu Berlim, a Alemanha, a Europa e o mundo em dois blocos econômicos, político-ideológicos e militares.
Passados 20 anos, vale lembrar algumas transformações importantes no cenário outrora dominado pela hegemonia de EUA e URSS. Destruído o "muro da vergonha", surgia a nova ordem mundial -expressão atribuída ao ex-presidente norte-americano George Bush (1989-1993).
Como destacou o pensador norte-americano Francis Fukuyama, com sua célebre expressão "fim da história", a nova ordem consagraria o triunfo do capitalismo e da democracia representativa sobre o modelo socialista. Fukuyama sepultava, junto à URSS, o socialismo, sua economia planificada e seu regime de partido único. Em seu lugar se consolidava como única via a democracia, o regime pluripartidário e a economia de mercado.
Com o fim do "socialismo real", veio a reunificação alemã (1990), a desintegração da URSS (1991) e o surgimento da CEI (Comunidade dos Estados Independentes) -como sempre, sob o comando de Moscou. Ocorreu também a divisão da Tchecoslováquia (1993) e a explosão do separatismo nos Bálcãs com o esfacelamento da Iugoslávia a partir de 1991.
No quadro dessa reordenação político-estratégica do espaço europeu, a União Europeia avançou em direção à antiga área de domínio soviético transformando-se num Estado gigante, saltando de 15 membros até 1995 para 27 nações em 2007.
A velha Rússia viu reduzir-se sua área de influência política, deixando de ser a superpotência hegemônica do Leste. E os EUA assumiram o papel de única potência. Como destacou recentemente nesta Folha o historiador britânico Eric Hobsbawm, o maior legado da queda do Muro de Berlim "foi a destruição de um sistema internacional estável", ou seja, o fim da Guerra Fria suprimiu o equilíbrio do sistema geoestratégico, à época, partilhado entre duas forças antagônicas, EUA e URSS. Se a antiga ordem bipolar não era boa, ao menos assegurava a estabilidade mundial. As potências controlavam suas respectivas áreas de influência.
Hoje, numa paisagem sem muro, governada pela supremacia de Washington, o mundo tornou-se um lugar muito mais perigoso, assegura Hobsbawm.

ROBERTO CANDELORI é professor do colégio Móbile.

rcandelori@uol.com.br


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