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ACESSO AO CURSINHO
Popular mistura estudo e cidadania
Índice de aprovação ainda é baixo, mas instituições tentam mostrar oportunidades a alunos
SIMONE HARNIK
VINÍCIUS SEGALLA
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi no cursinho que Daniel
Munhoz Fernandes, 21, descobriu a possibilidade de tentar
medicina em Cuba. Sempre
bom aluno, pensou também em
ir para Portugal ou para a Inglaterra para fazer a faculdade.
Contada assim, a história parece a de um jovem que estudou
nas melhores escolas e teve
grandes oportunidades. Mas
não, Daniel embarcou para a
terra de Fidel direto do Cursinho Popular de Jandira (na
Grande São Paulo), destinado a
quem tem baixa renda.
"Seria muito difícil estudar
no Brasil. Eu não teria condições de pagar um cursinho caro
para entrar numa boa faculdade e também não conseguiria
me sustentar, se entrasse. Lá eu
recebo uma bolsa total", conta.
Para Rosana de Fátima Galindo, 17, o cursinho comunitário é a esperança de ser mais
competitiva em busca da vaga
em engenharia. "As aulas estão
me ajudando, porque muita
coisa eu não vi no ensino médio
na escola pública."
No ano passado, a taxa de ingresso no ensino superior dos
alunos do Cursinho Popular de
Jandira foi de 7%. No cursinho
20 de Novembro, ligado à Fatec, os índices são semelhantes.
Desde o início, em 2002, mais
de 2.000 estudantes passaram
pelo pré-vestibular e cerca de
250 foram aprovados.
Mas os índices de aprovação
são só parte da função de um
cursinho comunitário. "Tem
também o papel de resgate da
auto-estima, de dar informação. É lá que ele percebe que
pode fazer um curso tecnológico ou prestar uma bolsa do
Prouni [programa do governo
federal], por exemplo", diz a
pesquisadora e coordenadora
do Cursinho Popular de Jandira, Silvia Maria Dias Ruedas.
Em Jandira, os jovens assistem
às aulas e trabalham as noções
de cidadania em projetos sociais -cadastramento de famílias em situação de risco ou arrecadação de alimentos.
A pró-reitora de extensão da
Unesp, Maria Amélia Máximo
de Araújo, concorda: "O importante não é só o ingresso. Na vivência, o estudante passa a ter
outra visão de mundo, aumenta
a auto-estima. Passa a batalhar
também o emprego". Na universidade, que tem 32 unidades, existem 23 cursinhos.
O cursinho da UFSCar também extrapola a preparação para os exames. "Buscamos complementar a formação do estudante. Por isso ministramos
aulas como ambiente, saúde
pública, filosofia, exclusão social e cultura e arte africana",
conta Fulvio Cesar Severino,
professor de biologia do curso e
aluno da UFSCar.
Frei David, da ONG Educafro, que tem 255 núcleos de
cursinhos no Brasil (184 em
SP), diz acreditar que a "função
do cursinho é despertar a consciência da exclusão da qual os
pobres e os negros são vítimas",
para levá-los a serem incluídos
na universidade pública.
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