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DEU NA MÍDIA
Haiti, o terremoto e o martírio de uma nação
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Não bastassem três décadas de ditadura dos Duvalier,
a decepção com o governo de
Bertrand Aristide ou o posto
de nação mais pobre da América, o Haiti comprova que a
realidade pode ser ainda
mais sinistra, como foi em 12
de janeiro.
Um terremoto de 7 graus
na escala Richter colocou no
chão a capital Porto Príncipe. Estima-se que tenham
morrido mais de 200 mil
pessoas, entre elas uma brasileira ilustre, a médica Zilda
Arns, fundadora da Pastoral
da Criança.
Movidos pelos ideais da
Revolução Francesa (1789),
os escravos haitianos proclamaram a primeira república
negra independente no
mundo moderno em 1804.
Liderados pelo ex-escravo
Toussaint L'Overture, deram início ao movimento
que culminou com a independência -aliás, só reconhecida por Paris em 1838,
mediante pagamento de uma
pesada indenização.
Após a independência, o
Haiti teve uma trajetória
marcada por crises políticas.
Por volta de 1915, alegando
quebra de compromissos, os
EUA ocuparam o país e, embora tenham se retirado oficialmente em 1934, jamais
deixaram de interferir na nação caribenha.
No século 20, com o aval
dos EUA, assumiu o comando do Haiti o médico François Duvalier, o Papa Doc,
eleito em 1957. Em 1964, ele
se autoproclamou presidente vitalício, implantando
uma ditadura. Sua base de
apoio eram os "tontons macoutes", milícia armada que
reprimia com violência qualquer oposição ao regime.
Após sua morte, em 1971,
assumiu seu filho, Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc,
com apenas 19 anos. Denunciado por violação aos direitos humanos, foi deposto em
1986 e asilou-se em Paris.
Com o fim da ditadura, renascem as esperanças agora
depositadas no padre Jean-Bertrand Aristide, eleito presidente em 1990. Com um
programa baseado na luta
contra a corrupção, Aristide
não resistiu e foi deposto em
1991, por um golpe. Com a intervenção dos EUA, foi reconduzido ao poder em 1993
e concluiu seu mandato.
Novamente eleito em
2000, Aristide foi incapaz de
contornar a crise e, agora
pressionado pelos EUA, renunciou. Deixou o país em
2004 à beira de uma guerra
civil. De pronto, a ONU decidiu enviar uma força internacional para restabelecer a
ordem, a Minustah (Missão
das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti), sob o
comando do Brasil.
Com muito trabalho, o
país vinha sendo reconstruído. Mas todo esse esforço
ruiu com o terremoto que soterrou não só a incipiente estrutura do Estado haitiano
mas o sonho de liberdade dos
herdeiros de L'Overture.
ROBERTO CANDELORI é professor do
colégio Móbile.
rcandelori uol.com.br
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