São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2008
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DEU NA MÍDIA

Estado, neoliberalismo e crise imobiliária

ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Antes de outubro de 1989, véspera da queda do muro de Berlim, estávamos no mundo da Guerra Fria, a ordem bipolar que surgiu depois da Segunda Guerra, em 1945.
Naquela época, norte-americanos e soviéticos estavam separados por um intransponível muro ideológico, político, econômico e militar, cuja síntese eram os blocos, capitalista e socialista. Construído sob o paradigma da guerra, o Estado daquela época era forte -quase totalitário- em ambos os lados da antiga Cortina de Ferro, isto é, controlava os movimentos da política, da sociedade e da economia. Com um Estado forte, a política reinava soberana e assumia um poder hegemônico. Pensava o planeta e suas possibilidades como um tabuleiro dinâmico, cujas peças eram alteradas para ampliar áreas de influência e avançar sobre novos territórios, sempre sob o olhar cúmplice do poderio militar.
No entanto, esse modelo de Estado, estruturado sob os ditames da soberania e da doutrina da segurança nacional, não caberia mais no manequim do mundo que se avizinhava, a Nova Ordem Mundial. A crescente abertura dos mercados nos anos 90, com a globalização, exigia uma profunda transformação. Afinal, a nova conjuntura mundial, agora sob a soberania do poder econômico, demandava um modelo menos custoso e mais eficiente, capaz de focar suas prioridades nos serviços básicos à população: saúde, educação e transporte. Para melhor sintetizar esse novo modelo surgiu a expressão Estado mínimo, um Estado enxuto adequado aos novos tempos.
Avanços significativos na área tecnológica trouxeram ao planeta uma nova dinâmica, marcada pelo crescente intercâmbio de informações, capitais e mercadorias. Entrávamos em um mundo globalizado, ou seja, submetido à soberania do mercado. A lógica era simples: quanto menor a interferência do Estado na economia, melhor o seu desempenho.
Ronald Reagan (1981-1989), nos EUA, e Margaret Thatcher (1979-1990), na Inglaterra, foram precursores daquilo que viria a ser chamado de neoliberalismo. Na época, seus críticos viam na supremacia da economia, essência da cartilha neoliberal, a fragilização do Estado e sua conversão num ente débil, sem força de combate perante o gigantismo do mercado.
Agora com a crise do setor imobiliário o tema volta à mesa, sobretudo depois que o Estado socorreu com vultosas somas o debilitado sistema financeiro. Perplexo diante do risco da quebradeira geral, Nicolas Sarkozy, presidente francês, profetizou, diante do silêncio dos neoliberais: "A ideologia da ditadura dos mercados e do Estado impotente morreram com a crise financeira".

ROBERTO CANDELORI é professor do colégio Móbile

rcandelori@uol.com.br



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