|
Texto Anterior | Índice
DEU NA MÍDIA
Estado, neoliberalismo e crise imobiliária
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Antes de outubro de 1989,
véspera da queda do muro de
Berlim, estávamos no mundo da Guerra Fria, a ordem
bipolar que surgiu depois da
Segunda Guerra, em 1945.
Naquela época, norte-americanos e soviéticos estavam
separados por um intransponível muro ideológico, político, econômico e militar, cuja
síntese eram os blocos, capitalista e socialista.
Construído sob o paradigma da guerra, o Estado daquela época era forte -quase
totalitário- em ambos os lados da antiga Cortina de Ferro, isto é, controlava os movimentos da política, da sociedade e da economia. Com um
Estado forte, a política reinava soberana e assumia um
poder hegemônico. Pensava
o planeta e suas possibilidades como um tabuleiro dinâmico, cujas peças eram alteradas para ampliar áreas de
influência e avançar sobre
novos territórios, sempre
sob o olhar cúmplice do poderio militar.
No entanto, esse modelo
de Estado, estruturado sob
os ditames da soberania e da
doutrina da segurança nacional, não caberia mais no manequim do mundo que se
avizinhava, a Nova Ordem
Mundial. A crescente abertura dos mercados nos anos
90, com a globalização, exigia
uma profunda transformação. Afinal, a nova conjuntura mundial, agora sob a soberania do poder econômico,
demandava um modelo menos custoso e mais eficiente,
capaz de focar suas prioridades nos serviços básicos à população: saúde, educação e
transporte. Para melhor sintetizar esse novo modelo
surgiu a expressão Estado
mínimo, um Estado enxuto
adequado aos novos tempos.
Avanços significativos na
área tecnológica trouxeram
ao planeta uma nova dinâmica, marcada pelo crescente
intercâmbio de informações,
capitais e mercadorias. Entrávamos em um mundo globalizado, ou seja, submetido
à soberania do mercado. A lógica era simples: quanto menor a interferência do Estado na economia, melhor o
seu desempenho.
Ronald Reagan (1981-1989), nos EUA, e Margaret
Thatcher (1979-1990), na Inglaterra, foram precursores
daquilo que viria a ser chamado de neoliberalismo. Na
época, seus críticos viam na
supremacia da economia, essência da cartilha neoliberal,
a fragilização do Estado e sua
conversão num ente débil,
sem força de combate perante o gigantismo do mercado.
Agora com a crise do setor
imobiliário o tema volta à
mesa, sobretudo depois que
o Estado socorreu com vultosas somas o debilitado sistema financeiro. Perplexo
diante do risco da quebradeira geral, Nicolas Sarkozy,
presidente francês, profetizou, diante do silêncio dos
neoliberais: "A ideologia da
ditadura dos mercados e do
Estado impotente morreram
com a crise financeira".
ROBERTO CANDELORI é professor do colégio Móbile
rcandelori@uol.com.br
Texto Anterior: Química: Massa leva troféu de biomassa no GP Brasil Índice
|