São Paulo, terça-feira, 26 de janeiro de 2010
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VALE A PENA SABER

BIOLOGIA

O fungo Neurospora crassa e a genética


De modo genial, Beadle e Tatum confirmaram que cada enzima é controlada por um gene


Reprodução
O pesquisador George Wells Beadle e o seu colega Edward Lawrie Tatum

ISMAEL FERNANDES DE ANDRADE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na década de 1940, os pesquisadores Beadle e Tatum desenvolveram uma estratégia genial para confirmar que cada enzima é controlada por um gene. Como sabemos, as enzimas são catalisadores biológicos que possibilitam as reações químicas celulares.
Tatum mostrou que o fungo N. crassa é capaz de produzir uma grande variedade de substâncias, tais como aminoácidos, proteínas, gorduras, ácidos nucleicos, entre outras, a partir de um meio de cultura relativamente simples: açúcar, sais minerais e a vitamina biotina -o que ficou conhecido como meio mínimo.
A ideia de Beadle e Tatum era que cada uma das milhares de reações químicas realizadas pelo fungo seria catalisada por uma enzima específica. Elaboraram o seu experimento, que consistia em irradiar os esporos do fungo com raios-X e assim obter indivíduos portadores de mutação em algum ou em alguns genes.
O fungo Neurospora foi escolhido por ser haplóide, assim, um mutante para determinado gene só poderia sobreviver se fosse acrescentada a substância que ele não conseguia sintetizar, pela falta da enzima específica. Dessa forma, se determinado indivíduo não fosse capaz de produzir o aminoácido arginina, seria possível a sua germinação em meio mínimo acrescentado de arginina.
A partir da germinação de um lote de esporos em meio suplementado, ainda seria necessário isolar os indivíduo selvagens (os que não sofreram mutações) dos indivíduos mutantes. Isso foi feito pela reprodução assexuada do fungo. Por último, eles ainda realizaram cruzamentos específicos que permitiram concluir que aquelas mutações eram herdáveis. Tudo isso foi realizado numa época em que nem sequer a estrutura do DNA estava estabelecida.
Esse grande salto qualitativo no conhecimento da ação dos genes, enzimas e vias metabólicas rendeu à dupla de pesquisadores o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1958. Um pequeno trecho dessa história esteve presente na questão 8 da prova do segundo dia da segunda fase da Fuvest 2010. Homenagem merecida, não acham?

ISMAEL FERNANDES DE ANDRADE é bacharel em ciências biológicas pela USP, professor do Stockler Vestibulares e do COC de São Bernardo do Campo.

ismaelf.andrade@yahoo.com.br

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