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INCENTIVO
Eles apontam defeitos e vantagens da reserva de vagas e da pontuação extra no vestibular
Cotas e bônus dividem especialistas
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ações afirmativas para ampliar a participação de alunos
da escola pública e afrodescendentes nas universidades são
apoiadas por especialistas ouvidos pela Folha. Eles discordam, porém, sobre a eficiência
dos sistemas aplicados.
Para o educador Creso Franco, as cotas tiveram o mérito de
levantar a questão da diversidade. "Precisamos agora diversificar as ações afirmativas",
afirma o professor da PUC-RJ.
Os sistemas de bônus na nota
do vestibular, adotados por
universidades paulistas como
USP e Unicamp, é apontado
por Franco como uma boa ação
alternativa. "Esse sistema tem
a vantagem de focalizar o mérito, tentando separar o que é
mérito individual e o que são
melhores oportunidades."
Ele diz que a pontuação extra
leva em conta a diversidade
étnica, um dos principais aspectos defendidos pelos sistemas de cotas. "A cota focaliza a
diversidade, às vezes ajuda o
mérito, às vezes atrapalha."
Já o diretor-executivo da
Educafro, frei David Santos,
afirma que alguns sistemas de
pontuação, como o Inclusp
-aplicado na Universidade de
São Paulo- deveriam ser reformulados. Sua crítica ao Inclusp é que alunos de classe
média de escolas públicas de
melhor nível estariam aproveitando a ação afirmativa para
ocupar vagas que poderiam ser
de alunos de famílias de baixa
renda.
"Há cidades pequenas sem
demanda para uma escola particular. Lá, há escolas públicas
boas, onde estuda a classe média, o filho do prefeito. Já na
periferia de São Paulo, onde
80% são negros, a rede pública
é abandonada."
Para pleitear uma vaga pelo
Inclusp, o aluno deve ter estudado os três últimos anos em
escola pública. Segundo a assessoria de imprensa da USP, o
sistema leva em conta que na
rede pública está boa parte dos
estudantes de baixa renda e
afrodescendentes.
Ideal
Entre os modelos adotados
atualmente, frei David aponta o
da Universidade Federal do
ABC como o mais próximo do
ideal. A entidade destina 50%
das vagas a estudantes que fizeram todo o ensino médio em
escolas públicas. Nesse percentual, ficam subdivididas vagas
para indígenas e afrodescendentes, segundo a presença
destes grupos no Estado.
O quesito raça não é considerado o melhor critério por Raphael Amaral, professor do cursinho popular da Acepusp (Associação Cultural dos Educadores e Pesquisadores da USP)
que participa de pesquisas sobre ações afirmativas. "O ideal
seria uma cota mais socioeconômica que racial", diz.
Para ele, é cedo para dizer se
as ações desenvolvidas são eficientes. "Acho que uma série de
coisas poderia melhorar."
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