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VELHAS CARREIRAS, NOVAS ÁREAS
Tecnologia e mudanças de valores aumentam campos de atuação
Profissões conquistam atribuições
ANDRÉ NICOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Hoje em dia, quando saem da faculdade, médicos e advogados
têm muito mais opções de áreas
de atuação do que no início do século 20. As tecnologias são mais
avançadas, e as preocupações
deste século não são iguais às de
antes. Quando uma mudança social implica uma necessidade diferente, nascem outras áreas para
as velhas carreiras, que entram no
novo campo tentando cada uma
delas estabelecer a sua parte.
Com o desenvolvimento da internet e o aumento de sua importância na sociedade, por exemplo,
profissionais foram deslocados
para esse novo campo. Cada carreira que poderia ganhar um pedaço do terreno, então, tratou de
demarcar o seu território.
Os jornalistas, que escreviam
para jornais, passaram a fazer textos para a rede; designers, que diagramavam revistas, passaram a
desenhar páginas; publicitários
foram produzir anúncios; programadores começaram a desenvolver sites; advogados foram cuidar
das questões legais.
"Sempre que surge um novo
objeto na sociedade, as carreiras
tratam de recortá-lo, cada uma
com a sua especificidade. Esse recorte, entretanto, é conflituoso e
sempre envolve relações de poder
entre as profissões. Se não surge
uma carreira com força suficiente
para dizer "isso é meu e ninguém
tasca", elas vão disputar esse objeto", disse Maria da Gloria Bonelli,
professora de sociologia das profissões da UFSCar (Universidade
Federal de São Carlos).
Segundo ela, nem só de inovações tecnológicas, como a internet, vive a evolução das profissões. "A tecnologia tem um peso
importante, mas muitas áreas
surgem de mudanças de valores."
Exemplo disso é a bioética, em
que novas tecnologias trouxeram
outras preocupações. O problema
de até que ponto manter o tratamento de um paciente que não teria melhora do quadro não existiria se não houvesse as técnicas para mantê-lo vivo. O mesmo acontece com o dilema de o que fazer
com embriões não-utilizados em
clínicas de fertilização.
"Com essas técnicas, os profissionais começaram a se ver diante
de novas situações em seu dia-a-dia. Para ajudar uma família a tomar uma decisão, há comissões
de bioética que englobam profissionais da medicina, do direito, da
filosofia e da antropologia e que
explicam a situação para os familiares para que eles tomem suas
decisões", disse Rosana Fiorini
Puccini, coordenadora da graduação em medicina da Unifesp.
Outro caso de nova preocupação é a área ambiental. Apenas no
meio do século passado a sociedade começou a se perguntar o que
fazer com os restos de sua produção, já que os seus efeitos nocivos
começaram a ser comprovados.
Com isso, por exemplo, engenheiros foram trabalhar nos novos sistemas de tratamento, advogados passaram a tratar da legislação e geógrafos e biólogos começaram a fazer análises de impacto.
Racionalização
Outra possibilidade de ampliação da área de atuação de velhas
carreiras acontece quando campos que já existiam são racionalizados e profissionalizados para
que dêem mais lucro, ou seja, se
transformam em negócios.
O esporte, por exemplo, por
muito tempo não foi considerado
uma forma de gerar lucros e era
mantido de forma amadora.
Quando se tornam negócios, todas as atividades têm de ser racionalizadas para evitar prejuízos, e
profissionais especializados, como administradores, advogados,
médicos, fisioterapeutas e publicitários são contratados.
O mesmo aconteceu com as atividades do setor rural, que viraram agronegócios. Para ser competitivo no mercado internacional e evitar prejuízos por causa de
condições naturais ou de falta de
planejamento, o que produzir, como produzir e para quem vender
passam a ser decisões de carreiras
como administração, economia,
zootecnia, agronomia, meteorologia e engenharia.
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