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HISTÓRIA
Os marinheiros e a Revolta da Chibata
ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Em 1978, o movimento negro escolheu o dia da morte de Zumbi, 20 de novembro, como o Dia
Nacional da Consciência Negra.
Nesse dia, em 1695, foram eliminados os últimos combatentes do
mais expressivo e duradouro movimento de luta contra a escravidão, o Quilombo dos Palmares. A
instituição só foi extinta em 1888,
o que não significou o fim da violência contra os negros. A luta teve de continuar.
Já no período republicano, uma
das manifestações mais eloqüentes contra as sobrevivências do regime escravista na sociedade brasileira foi a Revolta da Chibata,
que começou no Rio de Janeiro
em 22 de novembro de 1910.
A situação da Marinha no começo do século 20 era uma grande metáfora da sociedade brasileira. A oficialidade era constituída
de brancos, e os marinheiros,
quase na totalidade, eram negros.
O código disciplinar previa penas de castigos corporais, entre as
quais a temida aplicação de chibatadas. O marinheiro era preso a
ferros e espancado brutalmente
com uma chibata feita de corda e
incrustada de pregos e agulhas, o
que levava, às vezes, à morte do
infrator. Em sinal de revolta contra esse tratamento imposto a homens juridicamente livres, um
grupo de marinheiros, liderado
por João Cândido e Manoel Gregório do Nascimento, amotinou-se, assumiu o controle das duas
mais poderosas naves de guerra
da Marinha e exigiu a extinção
dos castigos corporais, assim como a anistia aos rebeldes.
O governo e os oficiais da Marinha consideravam uma humilhação negociar com "negros rebelados", mas tiveram de ceder. No
dia 25 de novembro, as reivindicações foram aceitas e, no dia 26, a
revolta acabou. Mas o governo e a
Marinha não cumpriram sua parte do acordo. Provocações desencadeadas pela oficialidade, que
não concordou com a anistia,
causaram novas revoltas dos marinheiros, que acabaram presos.
Dezoito marinheiros, entre os
quais João Cândido, ficaram numa solitária. Todos os dias, os carcereiros perguntavam se ele já tinha morrido. A solitária só foi
aberta quando um dos sobreviventes, mentindo, disse que sim.
De fato, 16 estavam mortos e já
em estado de decomposição, mas
dois ainda sobreviveram, entre os
quais João Cândido, que saiu da
solitária amparado, mas em pé.
Expulso da Marinha, passou a trabalhar como pescador e morreu
aos 89 anos, pobre e esquecido.
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As
Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e
professor no Colégio Rio Branco e na
Universidade Grande ABC. E-mail:
roberson.co@uol.com.br
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