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QUÍMICA
A história de um americano sortudo
LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Cuidado! O sinal fechou! Breca! Ufa, essa foi por pouco...". Pois é, não fosse a borracha
dos pneus... Você acredita que essa cena poderia jamais ter ocorrido, se não fosse uma descoberta
que aconteceu por acaso?
Essa história começa no século
16. Como você sabe, a borracha
não é exatamente uma novidade
científica. Já naquela época os índios da América faziam bolas
com o látex extraído da seringueira. Só que essa borracha natural
não tem lá muita utilidade: fica
mole e grudenta no calor, dura e
quebradiça no frio.
Quimicamente, a borracha é
um polímero do metil-1,3-butadieno (costuma ser dele -ou de
algum "parente"- o cheirinho
do "pneu queimado"). Sua fórmula é CH2=C(CH3)-CH=CH2.
Para entender o que é um polímero, imagine milhares de pessoas
passeando de braços cruzados.
De repente, todas abrem os braços e dão-se as mãos, formando
uma longa fila. Um polímero é isso, só que, no lugar de pessoas,
temos moléculas. A borracha,
por exemplo, é feita de
cadeias com milhares de unidades -CH2-C(CH3)=CH-CH2- que
se repetem.
Só no século 19 a borracha tornou-se tão útil. Tudo graças ao
americano Charles, nascido em
1800. Ele ficou simplesmente obcecado para resolver o problema
da borracha com as variações de
temperatura. Na década de 30,
perdeu tudo o que tinha, até a saúde, atrás dessa solução. Chegou
até a ser preso por causa de dívidas. Até que, num belo dia, deu
uma sorte tremenda: derrubou
um pouco de enxofre em um pedaço de borracha quente. Pronto.
O problema estava resolvido.
O enxofre ataca as duplas ligações dos carbonos na borracha,
formando pontes que ligam as
moléculas vizinhas. Isso acabou
estabilizando a estrutura do polímero. Quando esticamos a borracha, são essas pontes que a trazem
de volta ao seu formato original
(são essas mesmas pontes que explicam a elasticidade dos nossos
cabelos!). Charles havia inventado, sem querer, a vulcanização da
borracha (que hoje também é
produzida do petróleo). O termo
vulcanização é originado do deus
romano do fogo, Vulcano. Esse
mesmo processo é utilizado na
borracha até hoje!
Ah, sim. Depois disso, o rapaz
ficou até um pouco famoso. Talvez você já tenha ouvido falar dele. Seu sobrenome? Goodyear...
Luís Fernando Pereira é professor do
curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail:
lula5@ig.com.br
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