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      São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2003
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QUÍMICA

A história de um americano sortudo

LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Cuidado! O sinal fechou! Breca! Ufa, essa foi por pouco...". Pois é, não fosse a borracha dos pneus... Você acredita que essa cena poderia jamais ter ocorrido, se não fosse uma descoberta que aconteceu por acaso?
Essa história começa no século 16. Como você sabe, a borracha não é exatamente uma novidade científica. Já naquela época os índios da América faziam bolas com o látex extraído da seringueira. Só que essa borracha natural não tem lá muita utilidade: fica mole e grudenta no calor, dura e quebradiça no frio.
Quimicamente, a borracha é um polímero do metil-1,3-butadieno (costuma ser dele -ou de algum "parente"- o cheirinho do "pneu queimado"). Sua fórmula é CH2=C(CH3)-CH=CH2. Para entender o que é um polímero, imagine milhares de pessoas passeando de braços cruzados. De repente, todas abrem os braços e dão-se as mãos, formando uma longa fila. Um polímero é isso, só que, no lugar de pessoas, temos moléculas. A borracha, por exemplo, é feita de cadeias com milhares de unidades -CH2-C(CH3)=CH-CH2- que se repetem.
Só no século 19 a borracha tornou-se tão útil. Tudo graças ao americano Charles, nascido em 1800. Ele ficou simplesmente obcecado para resolver o problema da borracha com as variações de temperatura. Na década de 30, perdeu tudo o que tinha, até a saúde, atrás dessa solução. Chegou até a ser preso por causa de dívidas. Até que, num belo dia, deu uma sorte tremenda: derrubou um pouco de enxofre em um pedaço de borracha quente. Pronto. O problema estava resolvido.
O enxofre ataca as duplas ligações dos carbonos na borracha, formando pontes que ligam as moléculas vizinhas. Isso acabou estabilizando a estrutura do polímero. Quando esticamos a borracha, são essas pontes que a trazem de volta ao seu formato original (são essas mesmas pontes que explicam a elasticidade dos nossos cabelos!). Charles havia inventado, sem querer, a vulcanização da borracha (que hoje também é produzida do petróleo). O termo vulcanização é originado do deus romano do fogo, Vulcano. Esse mesmo processo é utilizado na borracha até hoje!
Ah, sim. Depois disso, o rapaz ficou até um pouco famoso. Talvez você já tenha ouvido falar dele. Seu sobrenome? Goodyear...


Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail: lula5@ig.com.br


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