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Raciocínio coerente resulta em bom texto
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O texto que ilustra a seção
"Redação do Leitor" de hoje, último desta série, constitui
um bom exemplo de dissertação. Embora lhe tenha faltado o
título -normalmente exigido
nos principais exames vestibulares-, destaca-se pelas suas
virtudes: bem organizado e
coerente, revela um autor seguro de suas opiniões.
Inicia-se com a defesa das
instituições democráticas, que
devem estar na base das sociedades civilizadas. Desenvolve
um raciocínio lógico, mostrando que, se desejamos, de fato, a
democracia, temos de ser coerentes e garantir a imparcialidade da Justiça a quem quer
que seja. O raciocínio é cristalino, mas, embora quase todos
se digam favoráveis à democracia, não são poucos os que, talvez sem perceber, defendem a
retaliação, idéia avessa aos
princípios democráticos.
O redator deixa claro que todos desejamos ver o ex-ditador
pagar por seus crimes. Mesmo
porque essa é a melhor maneira de mostrar ao mundo que
não há mais lugar -ou não deve haver- para quem ainda
não tenha aprendido a respeitar as instituições democráticas. A defesa de um julgamento
imparcial coaduna-se com a
esperança de erigir um mundo
sobre bases racionais, em que
figuras como Saddam Hussein
estejam em via de extinção.
Temas como esse costumam
ocasionar acalorados debates.
É realmente difícil oferecer Justiça a alguém que debochou
dessa instituição e perpetrou
crimes contra a humanidade,
mas é preciso lidar com o crime
de maneira racional -até para
que não se granjeie a simpatia
do mundo pela figura patética
do ex-ditador. Para se aprofundar nesse assunto, vale a pena
ler o livro "Vigiar e Punir", de
Michel Foucault, em que o autor analisa a evolução do homem no tratamento do crime.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da
Folha.
E-mail: tnicoleti@folhasp.com.br
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