São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2004
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Raciocínio coerente resulta em bom texto

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O texto que ilustra a seção "Redação do Leitor" de hoje, último desta série, constitui um bom exemplo de dissertação. Embora lhe tenha faltado o título -normalmente exigido nos principais exames vestibulares-, destaca-se pelas suas virtudes: bem organizado e coerente, revela um autor seguro de suas opiniões.
Inicia-se com a defesa das instituições democráticas, que devem estar na base das sociedades civilizadas. Desenvolve um raciocínio lógico, mostrando que, se desejamos, de fato, a democracia, temos de ser coerentes e garantir a imparcialidade da Justiça a quem quer que seja. O raciocínio é cristalino, mas, embora quase todos se digam favoráveis à democracia, não são poucos os que, talvez sem perceber, defendem a retaliação, idéia avessa aos princípios democráticos.
O redator deixa claro que todos desejamos ver o ex-ditador pagar por seus crimes. Mesmo porque essa é a melhor maneira de mostrar ao mundo que não há mais lugar -ou não deve haver- para quem ainda não tenha aprendido a respeitar as instituições democráticas. A defesa de um julgamento imparcial coaduna-se com a esperança de erigir um mundo sobre bases racionais, em que figuras como Saddam Hussein estejam em via de extinção.
Temas como esse costumam ocasionar acalorados debates. É realmente difícil oferecer Justiça a alguém que debochou dessa instituição e perpetrou crimes contra a humanidade, mas é preciso lidar com o crime de maneira racional -até para que não se granjeie a simpatia do mundo pela figura patética do ex-ditador. Para se aprofundar nesse assunto, vale a pena ler o livro "Vigiar e Punir", de Michel Foucault, em que o autor analisa a evolução do homem no tratamento do crime.


Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha.
E-mail: tnicoleti@folhasp.com.br


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