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REDAÇÃO
Tema requer discussão mais abrangente
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O texto demonstra a preocupação do redator em construir
uma estrutura correta: situa o
assunto, apresenta o problema
e pondera sobre a necessidade
de discutir as suas causas e antecedentes.
Dito isso, o leitor, naturalmente, espera ver no texto uma
discussão sobre as causas do
vandalismo praticado na escola. Encontra uma espécie de
justificativa para o comportamento dos adolescentes, que
estariam manifestando aquilo
que aprenderam ou deixaram
de aprender na própria escola.
Em outras palavras, o redator responsabiliza a escola pelos fatos, seguindo a linha de raciocínio segundo a qual as atitudes dos alunos são o resultado da atuação da escola.
Está posta a polêmica: a posição do redator é defensável,
mas o que diz não é tão óbvio
quanto quer fazer parecer. Em
suma, é preciso argumentar
mais, mostrar os outros lados e,
sobretudo, refutar os possíveis
contra-argumentos. Caso contrário, o posicionamento do autor pode ser visto como simplista. Um raciocínio é simplista quando simplifica artificialmente um problema, omitindo-lhe aspectos importantes.
É fato, todavia, que a discussão deveria ter como foco a utilização de câmeras de circuito
fechado nos banheiros da escola, atitude tomada pelo estabelecimento na tentativa de coibir a ação de alguns estudantes.
Essa questão chegou a ser debatida no âmbito da Justiça:
afinal, as câmeras invadem a
privacidade dos alunos?
Era a questão da privacidade
que, em tempos de Big Brother,
estava em jogo. As portas eletrônicas nas entradas de bancos, as revistas em aeroportos,
as câmeras em lojas, enfim, até
que ponto hoje se sacrifica a liberdade e a privacidade em nome da segurança?
O redator, embora saia um
pouco do foco do debate, toca
em pontos importantes. Como
adianta no próprio título, a escola deveria ensinar a prática
da vida em ambiente coletivo,
ensinar valores. Essa é uma
discussão importante. Dificilmente se ensina alguma coisa
por meio da repressão. Podem-se obter resultados rápidos, paliativos, mas é só.
Responsabilizar unicamente
a escola, entretanto, é fechar os
olhos para todos os outros modelos de comportamento disponíveis na sociedade. O texto
ganharia em densidade se o redator ampliasse a discussão,
tratando das novas modalidades de convívio social, que, ao
que tudo indica, estão chegando ao ambiente das escolas.
Ainda falta ao redator certa
habilidade na escolha do vocabulário. Vários termos são empregados de modo impreciso.
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO, autora dos livros "Redação Linha a Linha" (Publifolha) e
"Uso da Vírgula" (Manole), é colunista da Folha
Online e do site gazetaweb.globo.com/
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