São Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de 2007
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REDAÇÃO

Tema requer discussão mais abrangente

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O texto demonstra a preocupação do redator em construir uma estrutura correta: situa o assunto, apresenta o problema e pondera sobre a necessidade de discutir as suas causas e antecedentes. Dito isso, o leitor, naturalmente, espera ver no texto uma discussão sobre as causas do vandalismo praticado na escola. Encontra uma espécie de justificativa para o comportamento dos adolescentes, que estariam manifestando aquilo que aprenderam ou deixaram de aprender na própria escola.
Em outras palavras, o redator responsabiliza a escola pelos fatos, seguindo a linha de raciocínio segundo a qual as atitudes dos alunos são o resultado da atuação da escola. Está posta a polêmica: a posição do redator é defensável, mas o que diz não é tão óbvio quanto quer fazer parecer. Em suma, é preciso argumentar mais, mostrar os outros lados e, sobretudo, refutar os possíveis contra-argumentos. Caso contrário, o posicionamento do autor pode ser visto como simplista. Um raciocínio é simplista quando simplifica artificialmente um problema, omitindo-lhe aspectos importantes.
É fato, todavia, que a discussão deveria ter como foco a utilização de câmeras de circuito fechado nos banheiros da escola, atitude tomada pelo estabelecimento na tentativa de coibir a ação de alguns estudantes. Essa questão chegou a ser debatida no âmbito da Justiça: afinal, as câmeras invadem a privacidade dos alunos? Era a questão da privacidade que, em tempos de Big Brother, estava em jogo. As portas eletrônicas nas entradas de bancos, as revistas em aeroportos, as câmeras em lojas, enfim, até que ponto hoje se sacrifica a liberdade e a privacidade em nome da segurança?
O redator, embora saia um pouco do foco do debate, toca em pontos importantes. Como adianta no próprio título, a escola deveria ensinar a prática da vida em ambiente coletivo, ensinar valores. Essa é uma discussão importante. Dificilmente se ensina alguma coisa por meio da repressão. Podem-se obter resultados rápidos, paliativos, mas é só. Responsabilizar unicamente a escola, entretanto, é fechar os olhos para todos os outros modelos de comportamento disponíveis na sociedade. O texto ganharia em densidade se o redator ampliasse a discussão, tratando das novas modalidades de convívio social, que, ao que tudo indica, estão chegando ao ambiente das escolas.
Ainda falta ao redator certa habilidade na escolha do vocabulário. Vários termos são empregados de modo impreciso.


THAÍS NICOLETI DE CAMARGO, autora dos livros "Redação Linha a Linha" (Publifolha) e "Uso da Vírgula" (Manole), é colunista da Folha Online e do site gazetaweb.globo.com/

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