São Paulo, terça-feira, 30 de junho de 2009
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DEU NA MÍDIA

Tensão entre conservadores e reformistas agita o Irã

ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA

O anúncio da vitória do atual presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, com mais de 60% dos votos, desencadeou uma avalanche de protestos que tomou as ruas da capital, Teerã.
Denúncias de fraude levaram o candidato derrotado, Mir Hossein Mousavi, ex-primeiro-ministro, a exigir nova eleição. Aos protestos de rua o Estado respondeu com repressão, milhares de presos, vários mortos, proibição de comícios e acirramento da censura sobre os meios de comunicação.
República teocrática dirigida sob o olhar vigilante do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, o Irã enfrenta uma crise que confronta, de um lado, os "conservadores", representados pela população mais pobre da periferia das grandes cidades e das zonas rurais do país.
Defensora dos ideais da revolução que transformou o Irã numa república islâmica, essa parcela, cujo representante mais destacado é o atual presidente Ahmadinejad, busca preservar os valores da religião e da moral muçulmana, rejeitando radicalmente a modernização que para eles está associada a "ocidentalização".
Na oposição ao poder dos aiatolás está uma nova geração: os jovens, os intelectuais, a classe média urbana, enfim os chamados "reformistas". Protestam em nome da democracia e da liberdade. Querem mudanças, exigem uma sociedade mais aberta, defendem a democratização do Estado, mais liberdade de expressão, de imprensa e de comunicação.
Esses reformistas não participaram do movimento que levou à queda do regime do xá Reza Pahlevi (1941-1979), apoiado pelos EUA, e à ascensão do aiatolá Khomeini, que colocou fim à monarquia persa inaugurando o regime teocrático antiocidental.
Difícil prever o desfecho do movimento que ocupa as cidades da velha Pérsia. Do alto do seu poder o aiatolá Khamenei, autoridade política e religiosa, aliado do atual presidente reeleito, mandou o recado: o resultado das urnas será respeitado.
Normalmente, numa república teocrática, a palavra do líder supremo se converte em lei, inquestionável. Todavia, o andamento dos protestos indica que os reformistas estão dispostos a enfrentar o poder dos aiatolás para exigir mais liberdade.
Mobilizam forças através de uma rede de resistência digital, que espalha mensagens e imagens on-line da repressão. Trata-se de uma sublevação político-tecnológica que exige, entre outras coisas, o direito de orar pelo islã na mesquita mais próxima ou conectar-se à internet e navegar livremente pelo mundo.


ROBERTO CANDELORI é professor do colégio Móbile

rcandelori@uol.com.br


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