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DEU NA MÍDIA
Tensão entre conservadores e reformistas agita o Irã
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
O anúncio da vitória do
atual presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, com
mais de 60% dos votos, desencadeou uma avalanche de
protestos que tomou as ruas
da capital, Teerã.
Denúncias de fraude levaram o candidato derrotado,
Mir Hossein Mousavi, ex-primeiro-ministro, a exigir
nova eleição. Aos protestos
de rua o Estado respondeu
com repressão, milhares de
presos, vários mortos, proibição de comícios e acirramento da censura sobre os
meios de comunicação.
República teocrática dirigida sob o olhar vigilante do
líder supremo, o aiatolá Ali
Khamenei, o Irã enfrenta
uma crise que confronta, de
um lado, os "conservadores",
representados pela população mais pobre da periferia
das grandes cidades e das zonas rurais do país.
Defensora dos ideais da revolução que transformou o
Irã numa república islâmica,
essa parcela, cujo representante mais destacado é o
atual presidente Ahmadinejad, busca preservar os valores da religião e da moral
muçulmana, rejeitando radicalmente a modernização
que para eles está associada a
"ocidentalização".
Na oposição ao poder dos
aiatolás está uma nova geração: os jovens, os intelectuais, a classe média urbana,
enfim os chamados "reformistas". Protestam em nome
da democracia e da liberdade. Querem mudanças, exigem uma sociedade mais
aberta, defendem a democratização do Estado, mais liberdade de expressão, de imprensa e de comunicação.
Esses reformistas não participaram do movimento que
levou à queda do regime do
xá Reza Pahlevi (1941-1979),
apoiado pelos EUA, e à ascensão do aiatolá Khomeini,
que colocou fim à monarquia
persa inaugurando o regime
teocrático antiocidental.
Difícil prever o desfecho
do movimento que ocupa as
cidades da velha Pérsia. Do
alto do seu poder o aiatolá
Khamenei, autoridade política e religiosa, aliado do
atual presidente reeleito,
mandou o recado: o resultado das urnas será respeitado.
Normalmente, numa república teocrática, a palavra
do líder supremo se converte
em lei, inquestionável. Todavia, o andamento dos protestos indica que os reformistas
estão dispostos a enfrentar o
poder dos aiatolás para exigir
mais liberdade.
Mobilizam forças através
de uma rede de resistência
digital, que espalha mensagens e imagens on-line da repressão. Trata-se de uma sublevação político-tecnológica que exige, entre outras
coisas, o direito de orar pelo
islã na mesquita mais próxima ou conectar-se à internet
e navegar livremente pelo
mundo.
ROBERTO CANDELORI é professor do colégio Móbile
rcandelori@uol.com.br
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