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DESEMPREGO INTELECTUAL
Estudo mostra que 37% dos graduados de SP não atuam na carreira escolhida
Graduação não garante vaga na área
ALEXANDRE NOBESCHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando foi preencher a ficha de
inscrição para o vestibular, Vanessa Fernandes, 22, sabia apenas
que o curso de turismo estava na
moda. Empolgada com o que ouvia sobre o mercado de trabalho,
iniciou a graduação com a certeza
de que iria conseguir, com facilidade, um emprego. "Entrei justamente na época do boom do curso de turismo."
A realidade dela, hoje, é outra.
Formada em 2003, ela nunca conseguiu encontrar uma vaga na
área. Durante o curso, Vanessa
distribuiu diversos currículos,
mas raramente foi convidada para participar de entrevistas.
Além de não estar no mercado
de trabalho, Vanessa conta que algumas colegas não atuam com o
que estudaram na graduação.
"Tenho muitas amigas que viraram operadoras de telemarketing", revela Vanessa.
Esse panorama pode ser bem visualizado com o estudo realizado,
no ano passado, pelo economista
Claudio Dedecca, professor da
Unicamp. De acordo com sua
análise, que utilizou dados do
Censo 2000, 37% das pessoas com
ensino superior no Estado de São
Paulo exercem atividades que dispensariam a formação acadêmica. Esse fenômeno é chamado de
desemprego intelectual, expressão elaborada na Itália. No mês
passado, o índice de desemprego
geral foi de 11,4% no Brasil, segundo o IBGE.
"Vem aumentando o desemprego de pessoas com formação
elevada porque não houve crescimento econômico suficiente para
absorver toda a demanda de mão-de-obra especializada", explica o
professor.
De acordo com o professor, esse
perfil de empregado tem mais dificuldade de conseguir uma vaga
no mercado do que um trabalhador com qualificação inferior.
Essa falta de oportunidade também pode ser explicada quando
se olha para as escolhas que os estudantes realizam na hora de
prestar o vestibular. Por empolgação, como no caso de Vanessa, ou
por acreditar que o mercado poderá receber com facilidade o
contingente de graduados, os estudantes escolhem carreiras em
que as vagas estão escassas.
Segundo a consultora de carreira Luciana Sarkozy, os jovens precisam ficar atentos para não escolher uma profissão apenas porque
ela está na moda. "Não se pode levar apenas o mercado em consideração", afirma Luciana, que é
sócia-diretora do Career Center,
empresa de consultoria.
Caso o estudante analise apenas
as condições do mercado, segundo Luciana, ele pode ter algumas
frustrações. "Um dos exemplos
que sempre utilizo é o caso das telecomunicações. Acreditava-se
que o Brasil teria um amplo mercado. Muita gente, por conta disso, trocou de profissão ou optou
por uma formação voltada à área.
Acontece que o setor não conseguiu se desenvolver como era esperado que ocorresse."
Outra promessa, de acordo com
a orientadora profissional Fátima
Trindade, foi o turismo. "Há sete
ou oito anos, dizia-se que seria
uma profissão com amplo mercado, mas ninguém esperava os
atentados de 11 de setembro [em
2001], que levaram a um esfriamento do setor", diz Fátima.
Segunda chance
Após ter passado os quatro anos
na faculdade de turismo, Vanessa,
agora, quer tentar outra profissão.
Ela se prepara para concorrer a
uma vaga no curso de gastronomia, mas não esconde o receio de
que pode fazer novamente uma
escolha errada. "Dá medo de cometer outro erro, de perder tempo e dinheiro."
Segundo a psicóloga e orientadora de carreira Sofia Esteves do
Amaral, atualmente, vem crescendo o número de pessoas que
mudam de profissão. "Hoje, a
carreira não é mais como era antigamente, linear."
Para evitar surpresas no meio
do percurso, a orientadora Fátima Trindade explica que o estudante deve observar os fatores
que o motivam a fazer a escolha
ou a troca de profissão. Ela aponta
que é necessário que o jovem se
conheça e que faça uma análise do
seu tipo de comportamento.
"O jovem não pode ir pelos desejos dos pais nem pelo dinheiro
ou sucesso que a carreira irá trazer. A única coisa que ele precisa
levar em consideração é observar
o que o deixa motivado", orienta.
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