São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 2006
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ABRACE A CAUSA

Terceiro setor se profissionaliza, diversifica carreiras e começa a atrair estudantes

ONGs ampliam mercado de trabalho

CONSTANÇA TATSCH
FERNANDA CALGARO
DA REDAÇÃO

Há alguns anos, trabalhar em uma organização não-governamental era sinônimo de muito esforço e amor, mas sem expectativa de retorno financeiro. Hoje, o terceiro setor é um mercado de trabalho em expansão, que abriga milhares de profissionais, das mais diversas áreas.
Segundo pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) publicada em 2004, com dados de 2002, sobre as fundações e associações sem fins lucrativos, existem no país pelo menos 275 mil organizações, mais da metade criada nos últimos 13 anos, e o terceiro setor empregava 1,5 milhão de pessoas.
"A imensa maioria [212 mil] é tocada por trabalho voluntário, mas o resto, que é um número expressivo, é trabalho assalariado", afirma o professor da FGV, ligado ao Centro de Estudos do Terceiro Setor da fundação, Mário Aquino Alves. "Sem dúvida nenhuma há a tendência à profissionalização. Só agora o terceiro setor ganha visibilidade como um campo profissional", completa.
Trabalhar em uma organização dessas não é o caminho mais indicado para quem quer fazer fortuna. "Claro que a iniciativa privada paga mais, o salário não é tão competitivo. Mas as pessoas não vão trabalhar apenas para ganhar dinheiro mas também por acreditar nas causas."
Outra mudança importante é que as oportunidades existem em diversas carreiras. "Algumas profissões do futuro estão sendo geradas no terceiro setor", afirma Aquino, acrescentando que, se pudesse nascer de novo, teria feito biologia e se dedicaria à ecologia.
A responsável pela área de Recursos Humanos da WWF-Brasil, Deana Gurgel Leite Florêncio, pode comprovar essa diversidade dentro da própria organização.
"A gente tem muito campo de trabalho. Parece específico, mas fazemos tanta coisa, pelo Brasil inteiro", afirma.
Dentro da WWF existem economistas, contabilistas, administradores, jornalistas, especialistas em marketing, em turismo, engenheiros florestais, biólogos, agrônomos, veterinários, advogados e, ela mesma, de recursos humanos.
O mercado também está atraindo a atenção de estudantes. Além dos 93 funcionários da ONG, pelo menos 15 estagiários atuam em várias áreas. "Nos últimos anos, o interesse de pessoas que estão em universidades para trabalhar nessa área tem crescido muito", afirma Taciana Gouveia, diretora de desenvolvimento institucional da Abong (Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais). "Em uma ONG, as relações de trabalho são mais igualitárias, não há patrão. As pessoas têm de fazer de tudo um pouco. São geridas pelos conselhos diretores, mas não existem as hierarquias e as discrepâncias de salários entre as funções como em uma empresa privada, até por ser uma estrutura, na maioria das vezes, menor e ter o quadro funcional mais enxuto", afirma.

Vestibulando
Alguns jovens, antes mesmo da universidade, já estão de olho nesse novo mercado de trabalho e escolhem suas carreiras pensando no terceiro setor. André Ruoppolo Biazoti, 17, prestou vestibular para gestão ambiental na USP e espera o resultado da segunda fase. Ele já foi aprovado no curso de engenharia ambiental no Senac.
André optou por esses cursos em razão do interesse pelo ambiente. "Sempre gostei de animais, da natureza. E meu interesse foi aumentando. Sou 100% natureza", conta.
Esse amor se transformou em vontade de proteger o verde. O estudante começou a freqüentar palestras e a participar de projetos de ONGs como Greenpeace e SOS Mata Atlântica. Foi se envolvendo ao fazer pesquisas em livros e na internet e decidiu que trabalharia com isso. "Eu pulei de cabeça, não dá para evitar, é o que amo fazer."
Caso seja aprovado na USP, vai para Piracicaba e lá pretende "trabalhar o mais rápido possível", provavelmente em alguma ONG da região. O terceiro setor, na vida de André, veio para ficar. "Um dos meus maiores sonhos é montar eu mesmo uma ONG ambiental, levar minha paixão ao limite."


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