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ABRACE A CAUSA
Terceiro setor se profissionaliza, diversifica carreiras e começa a atrair estudantes
ONGs ampliam mercado de trabalho
CONSTANÇA TATSCH
FERNANDA CALGARO
DA REDAÇÃO
Há alguns anos, trabalhar em
uma organização não-governamental era sinônimo de muito
esforço e amor, mas sem expectativa de retorno financeiro. Hoje, o
terceiro setor é um mercado de
trabalho em expansão, que abriga
milhares de profissionais, das
mais diversas áreas.
Segundo pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) e pelo Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada) publicada em 2004,
com dados de 2002, sobre as fundações e associações sem fins lucrativos, existem no país pelo menos 275 mil organizações, mais da
metade criada nos últimos 13
anos, e o terceiro setor empregava
1,5 milhão de pessoas.
"A imensa maioria [212 mil] é
tocada por trabalho voluntário,
mas o resto, que é um número expressivo, é trabalho assalariado",
afirma o professor da FGV, ligado
ao Centro de Estudos do Terceiro
Setor da fundação, Mário Aquino
Alves. "Sem dúvida nenhuma há
a tendência à profissionalização.
Só agora o terceiro setor ganha visibilidade como um campo profissional", completa.
Trabalhar em uma organização
dessas não é o caminho mais indicado para quem quer fazer fortuna. "Claro que a iniciativa privada
paga mais, o salário não é tão
competitivo. Mas as pessoas não
vão trabalhar apenas para ganhar
dinheiro mas também por acreditar nas causas."
Outra mudança importante é
que as oportunidades existem em
diversas carreiras. "Algumas profissões do futuro estão sendo geradas no terceiro setor", afirma
Aquino, acrescentando que, se
pudesse nascer de novo, teria feito
biologia e se dedicaria à ecologia.
A responsável pela área de Recursos Humanos da WWF-Brasil,
Deana Gurgel Leite Florêncio, pode comprovar essa diversidade
dentro da própria organização.
"A gente tem muito campo de
trabalho. Parece específico, mas
fazemos tanta coisa, pelo Brasil
inteiro", afirma.
Dentro da WWF existem economistas, contabilistas, administradores, jornalistas, especialistas
em marketing, em turismo, engenheiros florestais, biólogos, agrônomos, veterinários, advogados e,
ela mesma, de recursos humanos.
O mercado também está atraindo a atenção de estudantes. Além
dos 93 funcionários da ONG, pelo
menos 15 estagiários atuam em
várias áreas. "Nos últimos anos, o
interesse de pessoas que estão em
universidades para trabalhar nessa área tem crescido muito", afirma Taciana Gouveia, diretora de
desenvolvimento institucional da
Abong (Associação Brasileira de
Organizações Não-Governamentais). "Em uma ONG, as relações
de trabalho são mais igualitárias,
não há patrão. As pessoas têm de
fazer de tudo um pouco. São geridas pelos conselhos diretores,
mas não existem as hierarquias e
as discrepâncias de salários entre
as funções como em uma empresa privada, até por ser uma estrutura, na maioria das vezes, menor
e ter o quadro funcional mais enxuto", afirma.
Vestibulando
Alguns jovens, antes mesmo da
universidade, já estão de olho nesse novo mercado de trabalho e escolhem suas carreiras pensando
no terceiro setor. André Ruoppolo Biazoti, 17, prestou vestibular
para gestão ambiental na USP e
espera o resultado da segunda fase. Ele já foi aprovado no curso de
engenharia ambiental no Senac.
André optou por esses cursos
em razão do interesse pelo ambiente. "Sempre gostei de animais, da natureza. E meu interesse foi aumentando. Sou 100% natureza", conta.
Esse amor se transformou em
vontade de proteger o verde. O estudante começou a freqüentar palestras e a participar de projetos
de ONGs como Greenpeace e SOS
Mata Atlântica. Foi se envolvendo
ao fazer pesquisas em livros e na
internet e decidiu que trabalharia
com isso. "Eu pulei de cabeça, não
dá para evitar, é o que amo fazer."
Caso seja aprovado na USP, vai
para Piracicaba e lá pretende "trabalhar o mais rápido possível",
provavelmente em alguma ONG
da região. O terceiro setor, na vida
de André, veio para ficar. "Um
dos meus maiores sonhos é montar eu mesmo uma ONG ambiental, levar minha paixão ao limite."
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