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ABRACE A CAUSA
Para conquistar vaga, é preciso amor ao tema; profissionais citam realização pessoal
Setor pede envolvimento com missão
DA REDAÇÃO
Atuar em ONGs, mesmo que
com horário fixo e salário no final do mês, não é como trabalhar
em uma empresa qualquer. É preciso acreditar. Encarar o serviço
como uma missão e celebrar cada
pequena conquista.
"Nós não apagamos as diferenças sociais, mas tentamos diminuí-las", diz Taciana Gouveia, diretora institucional da Abong e
coordenadora de educação do
Instituto Feminista para a Democracia - SOS Corpo, que funciona
em Recife e atua para a promoção
de direitos e para combater a discriminação sexual.
Graduada em psicologia e mestre em sociologia, Taciana prefere
se definir como "educadora feminista". "O profissional coloca o
seu conhecimento a serviço de
uma transformação. É preciso ter
compromisso político com a causa e lutar em prol dela", completa.
Apaixonada pelo que faz, ela
afirma que o "salário é para se
manter viva". "No fim do mês,
não recebo apenas em dinheiro,
mas sou remunerada também
com doses de satisfação e realização pessoal quando uma ação
educativa, por exemplo, alcança o
resultado esperado."
A organização ambientalista
WWF-Brasil tem 93 funcionários
-cerca de 65 em Brasília e os outros espalhados por todo o país,
nos locais em que os projetos são
tocados. Na hora da contratação
dessas pessoas, um fator extra
conta tanto quanto o currículo do
profissional: o amor pela natureza
e a vontade de protegê-la.
"O que a gente busca quando
seleciona pessoas para a WWF é
envolvimento com a missão, para
abraçar essa causa. Essa visão de
contribuir com uma causa e ter
uma missão nobre pesa", conta a
responsável pelo departamento
de Recursos Humanos, Deana
Gurgel Leite Florêncio.
Cada candidato precisa mostrar
que tem afinidade com o tema.
Pessoas já envolvidas na preservação ambiental, que reciclam lixo e que estão preocupadas com o
aquecimento climático, por
exemplo, tem mais chances. "Isso
faz o diferencial", diz.
Mesmo com a carteira assinada
e todos os direitos trabalhistas garantidos, a WWF não é uma empresa comum. O ambiente é informal, todos participam de reuniões para acompanhar os projetos e, claro, fazem a maior festa
quando descobrem que o número
de micos-leões-dourados cresceu.
"É muito fácil encontrar gente
até na área financeira que quer ir
além da geração de lucro", afirma
Deana.
Esse ponto de vista é compartilhado por Sóstenes Oliveira, diretor-geral da Fundação Gol de Letra, entidade presente em São
Paulo e em Niterói que atende
crianças e jovens dando cursos de
complementação educacional.
"As pessoas que trabalham em
ONGs buscam algo a mais."
Formado em engenharia de
produção, ele já trabalhou em
empresas privadas, no poder público e em universidades e conta
que se sente bastante motivado
no terceiro setor, onde atua há
três anos e meio. "É muito importante ter uma identificação com a
causa e isso é avaliado na hora na
hora de contratar um profissional. Experiência anterior no terceiro setor também conta."
Voz ativa
A proximidade e o contato contínuo com o público municiam as
ONGs com vasto conhecimento
sobre determinada realidade, explica Taciana, da Abong. "Quando acontece alguma coisa, como
um problema no posto de saúde,
o usuário do serviço irá recorrer e
pedir ajuda à entidade, por estar
por dentro da problemática."
Aliada a uma visão política muito clara, formada principalmente
na época da redemocratização
brasileira nos anos 80 e 90, quando as ONGs começaram a ser
criadas, a atuação dessas organizações permitiu a elaboração de
uma série de instrumentos e a
produção de conhecimento muito importante, avalia Taciana.
"Um exemplo está na área rural
nordestina, onde o governo tem
construído cisternas desenvolvidas com tecnologia de ONGs que
trabalham na área de semi-árido.
E é por isso, entre outras razões,
que passamos a ter voz ativa cada
vez mais."
Sóstenes, da Gol de Letra, concorda: "Com o declínio da credibilidade do poder público, as
ONGs funcionam como os olhos
da sociedade".
(FC e CT)
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