SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Na primeira onda de filmes iranianos lançados no Brasil, o argumento mais frequente era a miséria associada à infância, como em "O Jarro" (1992), de Ebrahim Forouzesh, e "Filhos do Paraíso" (1997), de Majid Majidi. Já "O Círculo" (2000) e "Ouro Carmim" (2003), ambos de Jafar Panahi, exemplificam tendência posterior, voltada para contrastes sociais.
Mais recentemente, ganham espaço os usos e costumes de classe média. "Procurando Elly", de Asghar Farhadi, vencedor do Urso de Prata de melhor direção no Festival de Berlim, se volta para esse universo social, também registrado por "Ninguém Sabe dos Gatos Persas", de Bahman Ghobadi, que recebeu prêmio na mostra Um Certo Olhar de Cannes e o da crítica na Mostra de São Paulo.
Cada um à sua maneira, são um tanto angustiantes -e, nesse aspecto, eles se mantêm fiéis a uma característica comum a boa parte dos longas iranianos que vêm circulando no Ocidente nos últimos 20 anos. Em "Gatos Persas", jovens tentam superar dificuldades legais para viajar e tocar em Londres.
O clima é mais pesado em "Procurando Elly". A situação inicial, porém, não sugere o que virá: um grupo de ex-amigos de escola, quase todos casados e com filhos, viaja de Teerã até o litoral do mar Cáspio para passar o fim de semana em uma casa alugada. Ao chegar, eles descobrem que precisam encontrar outro imóvel. A responsável pela pequena confusão é a faz-tudo do grupo (Golshifteh Farahani, a enfermeira pela qual o personagem de Leonardo DiCaprio se apaixona em "Rede de Mentiras").
Foi ela também quem resolveu convidar a professora da filha (Taraneh Alidoosti) para apresentá-la a um recém-separado. O que deveria ser um agradável reencontro entre amigos, com o bônus de talvez promover um novo romance, se transforma subitamente em prova para a resistência psicológica do grupo e para a firmeza de suas convicções morais, com os dogmas religiosos da sociedade iraniana contribuindo para tornar o cenário ainda mais difícil.