São Paulo, sexta-feira, 01 de fevereiro de 2002

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CRÍTICA

Longa espelha coincidências que são a vida

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Falar o gênero do filme é quase contar o final de "O Fio da Inocência" ("Felicia's Journey"), que estréia hoje no Brasil. Disfarcemos então dizendo que se trata de um suspense com final feliz. Ou de um romance com final triste.
Mas é mais que isso. É um "road movie" sem estrada, em que a viagem é a do título original, da adolescente irlandesa Felicia, que é abandonada grávida pelo namorado inglês e vai atrás dele para contar a novidade e fugir de sua realidade opressora. Por coincidência -e esse é o tema principal do filme, a sucessão de coincidências que é a vida-, acaba conhecendo o solteirão Hilditch (Bob Hoskins, excelente), gerente de cozinha, que tem muito mais em seu passado do que demonstra.
A história vai sendo contada com uma sucessão de flashbacks, tanto de Felicia em sua cidade natal quanto da infância de Hilditch, quando era ajudante-mirim do programa de culinária de sua mãe, a francesa Gala.
É revendo as fitas velhas e tentando recriar as receitas maternas que ele passa suas noites, até que chega a menina. Há ainda uma caricata arrebanhadora evangélica jamaicana que vai aparecer na vida dos dois em algum momento.
O motivo pelo qual você aguenta as quase duas horas de um filme lento e duro tem nome e sobrenome: Atom Egoyan. Globalizado, o egípcio de origem armênia é o cineasta mais interessante do Canadá.
Egoyan "surgiu para o mundo" com o sensual e perturbador "Exótica" (1994), que lhe valeu o prêmio da crítica em Cannes. Era seu sexto longa, sem contar diversos curtas, telefilmes e passagens pelos seriados "Além da Imaginação", "Alfred Hitchcock Presents" e "Sexta-Feira 13".
O próximo, e anterior a "Felicia's" (seu filme mais recente, embora de 1999), o consolidou como um dos grandes do cinema. Era "O Doce Amanhã" (1997), a inesquecível história do advogado que tenta convencer uma cidade chocada pela perda de suas crianças num acidente de ônibus escolar a achar de quem é a culpa.
Rendeu-lhe três prêmios em Cannes, duas indicações ao Oscar e dinheiro para fazer este "O Fio da Inocência". Valeu a pena, no mínimo pelo desempenho de Hoskins, tão distante de seu detetive Eddie Valiant de "Uma Cilada para Roger Rabbit" que os dois papéis não parecem ter sido interpretados pelo mesmo ator.


O Fio da Inocência
Felicia's Journey
   
Direção: Atom Egoyan
Produção: Canadá/Inglaterra, 99
Com: Bob Hoskins, Elaine Cassidy
Quando: a partir de hoje nos cines Cinearte e Unibanco Arteplex




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