|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Longa espelha coincidências que são a vida
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Falar o gênero do filme
é quase contar o final de
"O Fio da Inocência" ("Felicia's Journey"), que estréia
hoje no Brasil. Disfarcemos
então dizendo que se trata de
um suspense com final feliz.
Ou de um romance com final triste.
Mas é mais que isso. É um
"road movie" sem estrada,
em que a viagem é a do título
original, da adolescente irlandesa Felicia, que é abandonada grávida pelo namorado inglês e vai atrás dele
para contar a novidade e fugir de sua realidade opressora. Por coincidência -e esse
é o tema principal do filme, a
sucessão de coincidências
que é a vida-, acaba conhecendo o solteirão Hilditch
(Bob Hoskins, excelente),
gerente de cozinha, que tem
muito mais em seu passado
do que demonstra.
A história vai sendo contada com uma sucessão de
flashbacks, tanto de Felicia
em sua cidade natal quanto
da infância de Hilditch,
quando era ajudante-mirim
do programa de culinária de
sua mãe, a francesa Gala.
É revendo as fitas velhas e
tentando recriar as receitas
maternas que ele passa suas
noites, até que chega a menina. Há ainda uma caricata
arrebanhadora evangélica
jamaicana que vai aparecer
na vida dos dois em algum
momento.
O motivo pelo qual você
aguenta as quase duas horas
de um filme lento e duro tem
nome e sobrenome: Atom
Egoyan. Globalizado, o egípcio de origem armênia é o cineasta mais interessante do
Canadá.
Egoyan "surgiu para o
mundo" com o sensual e
perturbador "Exótica"
(1994), que lhe valeu o prêmio da crítica em Cannes.
Era seu sexto longa, sem
contar diversos curtas, telefilmes e passagens pelos seriados "Além da Imaginação", "Alfred Hitchcock Presents" e "Sexta-Feira 13".
O próximo, e anterior a
"Felicia's" (seu filme mais
recente, embora de 1999), o
consolidou como um dos
grandes do cinema. Era "O
Doce Amanhã" (1997), a
inesquecível história do advogado que tenta convencer
uma cidade chocada pela
perda de suas crianças num
acidente de ônibus escolar a
achar de quem é a culpa.
Rendeu-lhe três prêmios
em Cannes, duas indicações
ao Oscar e dinheiro para fazer este "O Fio da Inocência". Valeu a pena, no mínimo pelo desempenho de
Hoskins, tão distante de seu
detetive Eddie Valiant de
"Uma Cilada para Roger
Rabbit" que os dois papéis
não parecem ter sido interpretados pelo mesmo ator.
O Fio da Inocência
Felicia's Journey
Direção: Atom Egoyan
Produção: Canadá/Inglaterra, 99
Com: Bob Hoskins, Elaine Cassidy
Quando: a partir de hoje nos cines
Cinearte e Unibanco Arteplex
Texto Anterior: Cinema/Estréia: - "O Fio da Inocência": Olhares intrusos Próximo Texto: "Avassaladoras": Cineasta filma temor da solidão Índice
|