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ARTES PLÁSTICAS
Lisette discutiu o tema
Manifesto na internet propõe boicote à Bienal
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A polêmica surgiu aos 45 minutos do segundo tempo. O seminário "Marcel, 30", que deu início à
27ª Bienal de São Paulo e ocorreu
na sexta e no sábado, transcorria
com acadêmica tranqüilidade, exceção do artista Rirkrit Tiravanija
que, em sua fala-perfomance, fez
com que os presentes cantassem
"Parabéns a Você" para o artista
Marcel Broodthaers (1924-1976),
homenageado do evento, que
nasceu e morreu em 28 de janeiro.
Quando o seminário estava
aberto a perguntas, a curadora
suíça Corinne Diserens mudou a
discussão: "Quero saber o que a
Lisette pensa sobre o boicote à
Bienal proposto por Jimmie Durham?". Boicote à Bienal? Não seria a primeira vez. Liderado por
Hélio Oiticica, um boicote internacional ocorreu em 1969, por
conta da ditadura. Quem faz a
proposta agora é Durham, artista
norte-americano e índio cherokee, casado com uma brasileira.
Nas últimas semanas, ele passou a circular na internet um texto propondo "um boicote internacional à Bienal de São Paulo", a
partir de uma palestra que realizou no Fórum Social Mundial, em
fevereiro do ano passado, em Porto Alegre, na qual afirmava que "o
Brasil não considera os índios do
país como seres humanos plenos,
com todos os direitos humanos".
"Acredito que esse seja um texto
panfletário e datado", afirmou a
curadora Lisette Lagnado. Ela disse ainda que, para o seminário sobre o Acre, cogitava-se a presença
de Durham, mas a carta deu a entender que não faria sentido.
"Respeito muito o que Durham
diz, é um artista sério, e por isso
pensei se deveria participar deste
seminário. Acho que não se pode
deixar de levar em conta a discussão que ele propõe", afirmou Tiravanija. Entretanto, o artista disse ser "contra boicotes".
A partir de então, o boicote dominou os debates e quase todos
os especialistas manifestaram-se
sobre a questão. "Creio que boicote só deva ser feito num evento
como a Bienal se houver censura à
produção artística", afirmou o curador alemão Jürgen Harten.
Jochen Volz, curador convidado da Bienal, foi contemporizador: "Creio que a Bienal precisa
dar uma resposta à essa questão,
mas temos um núcleo aqui sobre
o Acre, que contempla essa discussão". Lagnado encerrou o seminário afirmando aceitar a sugestão de procurar Durham.
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