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MÚSICA
Em "Cabeça Elétrica Coração Acústico", pernambucano contrapõe influências
Silvério Pessoa moderniza o forró
ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem acha que modernizar o
passado é simplesmente colocar
umas batidinhas eletrônicas sobre sambas e bossas precisa conhecer o novo disco do pernambucano Silvério Pessoa.
Depois de cantar os forrós de Jacinto Silva e eletrizar os frevos de
Jackson do Pandeiro, Pessoa lança "Cabeça Elétrica Coração
Acústico". O álbum, o primeiro
solo com músicas próprias, se
destaca por contrapor influências
de ritmos da Zona da Mata norte-pernambucana a letras inteligentes e contemporâneas.
Além disso, traz participações
de primeira, de músicos como Lenine, Dominguinhos, Lula Queiroga, Siba e Fábio Trummer, além
da orquestra SpokFrevo.
Com esse trabalho, Pessoa conclui uma trajetória que começou
quando ele ainda integrava a banda Cascabulho que, junto do Mestre Ambrósio, fazia a cena mangue beat dançar forró.
"Eu tocava música tradicional a
partir das possibilidades modernas que o acordeão permite, enquanto o Mestre Ambrósio fazia o
mesmo com a rabeca", lembra
Pessoa, hoje com 44 anos. "Um
dia, ouvi o Chico [Science] me dizer: "Faça o que quiser que dá certo". Isso me marcou."
Para fazer o que queria, ele saiu
do Cascabulho e, em 2001, lançou
o disco-tributo "Bate o Mancá",
com canções de Jacinto Silva.
Na época, a crítica gostou, mas
cobrou um CD com composições
próprias. Em vez disso, dois anos
mais tarde, Pessoa voltou ao estúdio e saiu de lá com um álbum em
que aplicava beats e samples aos
praticamente desconhecidos frevos de Jackson do Pandeiro -famoso por seus forrós.
"Achei que fazer os dois primeiros discos sem músicas próprias
me colocaria em risco, mas era
um sonho que vi realizado", explica. A aventura deu certo e, graças a esses trabalhos, ele passou a
freqüentar festivais na Europa.
Hoje, é mais fácil assistir a um
show seu na França do que em
São Paulo ou no Rio de Janeiro.
Quase acústico
Ao contrário do CD anterior,
"Batidas Urbanas" (o tal com frevos de Pandeiro), em "Cabeça
Elétrica Coração Acústico" Pessoa usa a eletrônica como sutil base para forrós, xotes e afins.
"Como [o segundo disco] era
um projeto, tive mais liberdade.
Parti do conceito de descontinuidade, de pós-modernidade. Não
era um disco do Silvério Pessoa",
diz. "Neste quis mostrar o encontro com a modernidade, mas sem
me afastar de onde vim."
Por isso, a eletrônica entra camuflada, em samples de coros de
cantadores e de vinhetas incidentais. Se economiza nos beats, Pessoa contemporiza nas letras, como em "Seu Antônio", em que
dialoga com "Parabolicamará",
de Gilberto Gil. Ou em "Alto que
Só", na qual compara sua experiência ao ver a torre Eiffel com a
de seu avô, quando este viu "a torre da fábrica Tacaruna".
"Acredito que o futuro da música tradicional é cada vez mais envernizado por recursos modernos. Mesmo trabalhando com a
tradição, já me vejo com um atualizador dessa história que vem da
Zona da Mata."
Cabeça Elétrica Coração Acústico
Artista: Silvério Pessoa
Lançamento: independente
(www.silveriopessoa.com.br)
Quanto: R$ 18,50, em média
Ouça a música "Seu Antônio": www.folha.com.br/060312
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