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Comida
Da aristocracia à padaria
Com mais de 500 anos de história, o macaron se espalha por São Paulo
e ganha sabores brasileiros; crocante por fora e macio por dentro, o doce nasceu
em Veneza, na Itália, e fez fama na França
RACHEL BOTELHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Nascido na Itália e adotado
pelos franceses no século 16, o
macaron chegou a São Paulo há
somente uma década. Nos últimos tempos, começou a se espalhar por cafés, pâtisseries e
padarias gourmet da cidade e
vem ganhando sabores brasileiros, como cajá e cupuaçu. "A
procura não pára de aumentar", afirma a doceira Pati Piva,
que produz o doce há seis anos.
Com forma de disco, crocante por fora e macio por dentro,
o macaron (diz-se "macarrôn")
é uma criação da Veneza renascentista. Conhecido originalmente por "maccherone", devido à sua massa fina, alcançou
grande reputação na França,
onde aportou com a comitiva
de Catarina de Médicis. A receita, à base de farinha de amêndoas, açúcar e claras de ovos,
permaneceu secreta e restrita à
nobreza até ser descoberta por
uma congregação de irmãs carmelitas na cidade de Nancy, no
nordeste da França.
Existem várias formas de
preparar macaron e incontáveis opções de recheio. Segundo o pâtissier francês Fabrice
Lenud, que se declara pioneiro
na produção do doce em São
Paulo, à frente da pâtisserie Le
Fournil, em 1997, em Nancy
predomina o tipo gerbet: liso,
preparado com claras batidas.
É o mais comum também por
aqui. "Já em Bordeaux, as claras são cruas e ele é chamado de
"craquelé" devido à casquinha
rachada. Sua massa é mais pesada", explica.
Há seis anos no comando da
Pâtisserie Douce France, também em São Paulo, Lenud diz
que faz de 60 mil a 70 mil unidades por ano, média de 190
por dia. "É uma febre. Tenho
encomendas até do Norte e do
Nordeste", diz. Na sua loja, predominam recheios tradicionais
como avelã e framboesa.
Para Marc Gonzalez, chef da
La Pâtisserie, a graça está em
mesclar sabores brasileiros à
base francesa. Com oito variedades na vitrine, ele dá preferência aos recheios de frutas
como manga, cajá e bacuri, mas
admite que o macaron de brigadeiro é o mais procurado. "Bem
ao gosto brasileiro."
Independentemente dos sabores escolhidos, todos reconhecem que se trata de um doce difícil de preparar. "É importante trabalhar com ingredientes de primeira. Usar farinha de
castanha de caju, como fazem
alguns, é falsidade ideológica",
afirma Lenud. Segundo ele, um
dos segredos para obter um
bom macaron é assá-lo em duas
etapas.
"Na primeira, forma-se a crosta; na segunda, a massa cresce
como um cogumelo."
Ao voltar da França, onde estudou culinária, a própria Pati
Piva teve dificuldades para reproduzir a receita. "A matéria-prima e o clima são diferentes
aqui, e o doce sofre com as alterações. É muito delicado", diz.
Tanto que não se conserva por
mais que três dias na geladeira
ou uma semana no freezer. Isto
é, se durar tanto tempo.
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