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Comentário
Filme evoca era de intensas mudanças na Inglaterra
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DA ILUSTRADA
Grande parte do encanto de
"Educação" está no fato de reconstituir uma era cheia de significados, o Reino Unido dos
anos 1960, que ditaria regras na
cultura e nos hábitos ocidentais. Mas o que se vê na tela não
é, ainda, a Inglaterra da "swinging London" do final daquela
década, e sim uma mais nublada, a do começo desse período,
que apenas vislumbrava a possibilidade do sexo livre, permitido pela aparição da pílula anticoncepcional, e talvez nem
sequer sonhasse com as intensas transformações sociais e
políticas que se seguiriam.
"Educação" se passa no momento retratado por Philip
Larkin no poema "Annus Mirabilis" (1967): "O intercurso sexual começou/ em mil novecentos e sessenta e três/ (tarde
demais para mim)/ entre o fim
da proibição de "Lady Chatterley'/ e o primeiro disco dos
Beatles".
"O Amante de Lady Chatterley", obra célebre de D.H. Lawrence (1885-1930), contava as
aventuras sexuais da mulher de
um aristocrata impotente com
um empregado do casal.
Considerado imoral, o livro,
escrito em 1928, só foi liberado
no Reino Unido em 1960. Já o
primeiro disco dos Beatles é
"Please Please Me" (1963).
É esse espaço de tempo, em
que houve uma transição acelerada de comportamentos, que o
filme revela, contrapondo o
aborrecido subúrbio londrino
de Twickenham, onde vive a jovem protagonista, com o ideal
de uma sociedade mais permissiva, no caso, a França.
Em 2007, o mesmo período
foi abordado literariamente pelo britânico Ian McEwan, em
"Na Praia". O romance passa-se
em 1962, na noite de núpcias de
um jovem casal, que encontra
enormes dificuldades de encarar a iniciação sexual.
Se em "Educação" a menina
Jenny valoriza o momento em
que irá perder a virgindade, em
"Na Praia", Florence teme a dor
e o desconforto físico que o
ato provocará. Ambos são retratos de uma mesma incerteza
feminina, diante do sexo e do
novo período histórico que se
descortinava.
A Inglaterra dos Beatles, do
rock e da moda certamente ficou mais célebre. Mas a do
princípio da década de 1960,
em que toda a liberação era ainda sonho e dúvida, tem imenso
charme literário e cinematográfico. Isso está muito bem delineado em "Educação".
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