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MODA PARIS
França contra-ataca com sopro da criação
ERIKA PALOMINO
enviada especial a Paris
Milão ou Paris? Com o sucesso
da temporada italiana, que terminou no fim-de-semana, os especialistas recomeçaram: "Será que
Milão está melhor do que Paris?
Paris precisa se cuidar etc.". Pois
liderada por um mandarinato fashion composto por três japoneses, logo no primeiro dia, Paris
contra-ataca com coleções consistentes e elaboradas, cheias de
informação de moda e criação legítima. A temporada do prêt-à-porter outono-inverno 2000/2001
termina oficialmente no sábado
de Carnaval.
A estilista Rei Kawakubo, em
sua Comme des Garçons, dá um
verdadeiro susto no público (no
bom sentido), em apresentação
de inspiração punk e atitude rock
(na música também), com direito
a couro perfurado e jaquetas rasgadas -altíssimo nível de ironia
fashion. Alfaiataria de perfume
masculino substitui a feminilidade explícita da marca em outras
estações, agora com estamparia
de giletes, bocas e olhos.
Ao som de valsas vienenses,
Junya Watanabe (braço-direito
de Kawakubo) faz poesia formal
com sua "techno couture" feita de
tecnologia têxtil em vestidos de
camadas, como flores.
Yohji Yamamoto enche de novo o Moulin Rouge de lirismo
com seus nômades esquimós.
Parte da coisa das peles. O próprio convite já criava uma curiosidade e instalava o clima: era um
pedaço redondo do material sintético, preto, que os convidados
levaram ao desfile para entrar,
acenando com ele ou apenas
mostrando aos seguranças -que
resultava em um ritual.
Lá dentro, cantos índios e tibetanos se revezam, e às vezes se sobrepõem, para embalar as roupas
que misturam conceitos de rústico e natural com sofisticação e
exímio acabamento. Crepes e jérseis costurados à moda das peles
animais, pretos ou crus, envolvem o corpo, dando conforto. Os
grandes volumes das peles esquentam e criam as silhuetas.
Estolas e chapéus (ora capuzes,
ora tipo cossacos) completam o
look, em que bandagens coloridas, em lavados tons pastéis de
amarelo, pink ou azul, em círculos ou quadrados, remetem ao
efeito do sol de inverno na pele.
Óculos de neve aparecem aqui e
ali, sempre surpreendendo. Nos
pés, botas sem salto, altas, com ou
sem pele, às vezes em simples tricô de lã grosso.
As peles são de raposa verdadeira e de lobo, falsa. Vêm em mesclado natural, preto ou cru, com
um look em vermelho na calça e
casaco criando um verdadeiro
momento fashion e transformando os fotógrafos do grid em "mosquinhas", com o barulho dos disparadores e flashes.
Uma criativa abordagem surge
nos vestidos com tratamento de
moleton em matelassê, com padronagem de tapete ou forro. Ao
final, uma família (mãe-modelo
& bebê, e um homem) representa
a travessia dos Inuit pelos territórios gelados. Yohji Yamamoto é
mesmo o último dos românticos.
Dries van Noten acionou um
megamix das tendências do momento e caminhou mais para o lado comercial, em sua coleção desfilada sob 4.300 bulbos de lâmpadas na periferia de Paris, no Parc
Français, para onde os fashionistas se despencaram sob chuva.
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