São Paulo, quarta-feira, 01 de março de 2000


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MODA PARIS
França contra-ataca com sopro da criação

ERIKA PALOMINO
enviada especial a Paris

Milão ou Paris? Com o sucesso da temporada italiana, que terminou no fim-de-semana, os especialistas recomeçaram: "Será que Milão está melhor do que Paris? Paris precisa se cuidar etc.". Pois liderada por um mandarinato fashion composto por três japoneses, logo no primeiro dia, Paris contra-ataca com coleções consistentes e elaboradas, cheias de informação de moda e criação legítima. A temporada do prêt-à-porter outono-inverno 2000/2001 termina oficialmente no sábado de Carnaval.
A estilista Rei Kawakubo, em sua Comme des Garçons, dá um verdadeiro susto no público (no bom sentido), em apresentação de inspiração punk e atitude rock (na música também), com direito a couro perfurado e jaquetas rasgadas -altíssimo nível de ironia fashion. Alfaiataria de perfume masculino substitui a feminilidade explícita da marca em outras estações, agora com estamparia de giletes, bocas e olhos.
Ao som de valsas vienenses, Junya Watanabe (braço-direito de Kawakubo) faz poesia formal com sua "techno couture" feita de tecnologia têxtil em vestidos de camadas, como flores.
Yohji Yamamoto enche de novo o Moulin Rouge de lirismo com seus nômades esquimós. Parte da coisa das peles. O próprio convite já criava uma curiosidade e instalava o clima: era um pedaço redondo do material sintético, preto, que os convidados levaram ao desfile para entrar, acenando com ele ou apenas mostrando aos seguranças -que resultava em um ritual.
Lá dentro, cantos índios e tibetanos se revezam, e às vezes se sobrepõem, para embalar as roupas que misturam conceitos de rústico e natural com sofisticação e exímio acabamento. Crepes e jérseis costurados à moda das peles animais, pretos ou crus, envolvem o corpo, dando conforto. Os grandes volumes das peles esquentam e criam as silhuetas.
Estolas e chapéus (ora capuzes, ora tipo cossacos) completam o look, em que bandagens coloridas, em lavados tons pastéis de amarelo, pink ou azul, em círculos ou quadrados, remetem ao efeito do sol de inverno na pele. Óculos de neve aparecem aqui e ali, sempre surpreendendo. Nos pés, botas sem salto, altas, com ou sem pele, às vezes em simples tricô de lã grosso.
As peles são de raposa verdadeira e de lobo, falsa. Vêm em mesclado natural, preto ou cru, com um look em vermelho na calça e casaco criando um verdadeiro momento fashion e transformando os fotógrafos do grid em "mosquinhas", com o barulho dos disparadores e flashes.
Uma criativa abordagem surge nos vestidos com tratamento de moleton em matelassê, com padronagem de tapete ou forro. Ao final, uma família (mãe-modelo & bebê, e um homem) representa a travessia dos Inuit pelos territórios gelados. Yohji Yamamoto é mesmo o último dos românticos.
Dries van Noten acionou um megamix das tendências do momento e caminhou mais para o lado comercial, em sua coleção desfilada sob 4.300 bulbos de lâmpadas na periferia de Paris, no Parc Français, para onde os fashionistas se despencaram sob chuva.


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