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CINEMA/ESTRÉIA
Premiado com a Palma de Ouro de melhor direção, "O Homem que Não Estava Lá" chega agora ao Brasil
O pequeno mundo dos irmãos Coen
TETÉ RIBEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM CANNES
Chegou de novo uma das melhores notícias do cinema: tem filme novo dos irmãos Coen estreando no Brasil. Desta vez é "O
Homem que Não Estava Lá", que
os EUA viram no fim de 2001 e o
Festival de Cannes, há quase um
ano -e de onde Joel, 47, e Ethan,
44, voltaram com a Palma de Ouro de melhor direção.
A dupla é a mais original em atividade cinematográfica hoje em
dia. Seus filmes são diferentes uns
dos outros, e não dão a menor
pista do que os dois podem fazer
em seguida. Foi assim com o thriller "Fargo", com o semimusical
"E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?",
com a comédia "O Grande Lebowski".
É assim de novo com esta homenagem ao filme noir, em preto
e branco e tão cheia de climas que
fez Billy Bob Thornton, ator principal e narrador do filme, virar galã. Os dois diretores falaram com
a imprensa estrangeira em Cannes. Leia trechos abaixo.
Folha - Como vocês dividem as
funções no set e como se sentem
com os cargos que ocupam? Por
que Joel é sempre o diretor, e
Ethan, o produtor?
Ethan Coen - Por mim está tudo
bem do jeito que está...
Joel - Acho que nenhum de nós
se importa de verdade com isso. A
descrição do trabalho de cada um
ou o nome da função que cada um
ocupa não é das maiores preocupações que temos. Vemos nosso
trabalho como uma colaboração,
tanto entre nós como entre muitas outras pessoas com quem trabalhamos.
Frequentemente trabalhamos
com as mesmas pessoas em muitos filmes, é um esquema em que
contamos com a criatividade do
conjunto e com o que elas podem
trazer. É uma grande colaboração
entre amigos. O trabalho é tão intenso que é difícil levar qualquer
nomenclatura muito a sério.
Folha - O título de trabalho do filme foi "O Filme do Barbeiro" e "O
Projeto do Barbeiro". Porque se decidiram por "O Homem que Não Estava Lá"?
Ethan - As duas opções que você
falou não eram exatamente títulos, mas nomes pelos quais nos
referíamos ao filme, que ainda
não tinha título. Não sei.
Folha - Vocês são famosos por escolherem bem e com cuidado as
músicas para a trilha de seus filmes. Gostaria que comentassem as
escolhas feitas para este filme, especialmente as sonatas de Beethoven.
Joel - As sonatas foram sugeridas inicialmente por causa da trama, o personagem estava estudando piano, mas depois achamos que o fundo de Beethoven
combinava. Como sempre, fizemos muitas opções e escolhemos
o que parecia certo, o que nos fazia sentir que estava bem. Não há
nenhuma razão intelectual. A
maior razão era o Billy Bob
Thornton. Tinha de combinar
com o personagem dele.
Folha - Vocês ainda se consideram "independentes"?
Joel - Esses rótulos são difíceis
de se decifrar quando aplicados a
você mesmo. Você nunca sabe direito o que eles significam, ou que
tipo de comentário está por trás
deles. Cinema independente não
tem uma definição exata, ninguém sabe o que isso significa de
verdade. Mas o que quer que seja
que você sinta a respeito disso em
pouco muda completamente.
Quando começamos, havia
muitos filmes sendo feitos fora
dos grandes estúdios e tendiam a
ser filmes de gênero ou de exploração. Hoje em dia esses filmes viraram um elemento da indústria
do cinema como outro qualquer.
É só olhar para o que aconteceu
com o Sundance nos últimos 15
anos. De certa forma, isso também dificulta que se fale em rótulos com tanta propriedade.
Ethan - Todo o mundo sabe o
que é um filme feito por um grande estúdio de Hollywood. Fora isso, e no nosso caso principalmente, não sabemos onde nos colocar.
Já fizemos filmes que foram financiados por fora do esquema
dos estúdios. Também fizemos
filmes financiados por grandes
estúdios. Fizemos filmes financiados por dinheiro de fora dos EUA,
mas distribuído por um esquema
de Hollywood. Então não sei onde
nos colocar nessa história, mas
acho que isso não importa tanto.
Acho que o cinema acomoda
pontos de vista diferentes.
Gosto de pensar que somos cineastas de meia-idade que colocam muito risco nas obras que fazem. A inovação hoje em dia
acontece muito mais nos filmes
digitais. As novas gerações estão
em busca de um jeito mais barato
de fazer filmes, que não precisam
de tanto dinheiro, portanto não
têm de responder a tanta gente.
Esse é o coração do filme independente, é o que queríamos
quando começamos no cinema.
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