São Paulo, domingo, 01 de março de 2009

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Crítica/DVD/"Onde Está a Liberdade?"

Filme exibe Totò sob direção de Rossellini

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

O napolitano Antonio de Curtis (1898-1967) arrumou um lugar entre os mais populares humoristas do cinema europeu com o pseudônimo de Totò, mas não se limitou a estrelar comédias de costumes. Pier Paolo Pasolini, por exemplo, tomou emprestada a sua figura, com ótimo resultado, no marxista "Gaviões e Passarinhos" (1966).
Antes, Totò já havia experimentado outra variação em sua carreira pelas mãos de Roberto Rossellini (1906-1977), um dos pilares do neorrealismo italiano, em "Onde Está a Liberdade?". Rodado entre março e maio de 1952, o filme só foi lançado na Itália em 1954, depois que um velho parceiro de Totó, Mario Monicelli, dirigiu cenas adicionais.
A contribuição de Monicelli ("Meus Caros Amigos", "Parente é Serpente") corresponde à parte mais cômica, em que o barbeiro interpretado por Totò vai ao tribunal por algo inusitado: a invasão da cadeia de onde havia sido liberado dias antes, após cumprir 22 anos de pena.
Por que resolveu abrir mão da liberdade para voltar ao cárcere? Enquanto procura explicar ao juiz seus motivos, sob protestos do advogado de defesa, entram os flashbacks, que reconstituem, bem próximos dos parâmetros da escola neorrealista, seus percalços na tentativa de se reintegrar à sociedade, em Roma.
O problema não é o barbeiro, transparente e ingênuo a ponto de contar a desconhecidos o crime que o levou pela primeira vez à prisão. A sociedade italiana do pós-guerra é que não parece muito disposta a reintegrar ninguém, às voltas com a luta pela sobrevivência que torna o convívio social um jogo de salve-se quem puder.
Essa visão ácida, que a atuação de Totò deixa um pouco mais leve e satírica, integra-se bem à obra de Rossellini, embora os créditos devam ser divididos, à moda de trabalho coletivo do neorrealismo, com outros quatro roteiristas -o mais ilustre é Ennio Flaiano (1910-1972), que assinou clássicos de Federico Fellini e Michelangelo Antonioni.
Como se não bastassem Rossellini, Totò, Monicelli e Flaiano, a aguda crítica social de "Onde Está a Liberdade?" tem seu peso valorizado pela reunião, nos créditos, dos dois produtores italianos mais ambiciosos e bem-sucedidos do pós-guerra, Carlo Ponti ("Doutor Jivago") e Dino DeLaurentiis ("Guerra e Paz").

ONDE ESTÁ A LIBERDADE?
Lançamento: Versátil
Quanto: R$ 38, em média
Classificação: não informada
Avaliação: bom



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