|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Expedição Langsdorff"
Mostra traz país pré-Independência
Expedição científica de oito anos no século 19 levou Rugendas e outros para registrar flora, fauna e tipos brasileiros
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Expedição Langsdorff", em cartaz no
Centro Cultural
Banco do Brasil (CCBB) de São
Paulo, é uma exposição primorosa. Inaugura a renovação do
espaço expositivo no segundo
andar da instituição, que ganhou pé-direito mais alto e iluminação mais adequada, o que
traz nova e correta dimensão às
difíceis salas do local.
Com curadoria do russo Boris Komissarov, da Universidade de São Petersburgo, junto a
Ania Rodriguez Alonso e Rodolfo de Athayde, a mostra
aborda a quixotesca empreitada patrocinada pelo czar russo
Alexandre 1º e capitaneada pelo alemão Georg Heinrich Von
Langsdorff (1774 - 1852), realizada entre 1821 e 1829. Durante
o período, Langsdorff teria ficado demente, o que possivelmente foi causado pela sífilis.
Toda a produção da expedição foi encaminhada à Rússia e
desaparecida até 1930, quando
foi encontrada nos porões do
museu do Jardim Botânico de
São Petersburgo. Parte do acervo pode agora ser visto em "Expedição Langsdorff", um mapeamento da fauna, flora, paisagens e tipos humanos brasileiros do período que se aproxima da independência do país.
A cenografia da mostra reforça o caráter científico da expedição, apresentando cerca de
180 desenhos, aquarelas e mapas dispostos em paredes como
às dos museus de ciência e antropologia, além de outros dispositivos usados nesse tipo de
ambiente, como pequenas vitrines, que tornam a observação mais adequada.
Enquanto a produção de Johann Moritz Rugendas, Aimé-Adrien Taunay e Hercule Florence já é, de certa forma, conhecida por aqui -o último está em cartaz na Pinacoteca do
Estado, na mostra "Hercule
Florence e Brasil"-, a revelação da mostra se torna o astrônomo e cartógrafo russo Néster
Gavrílovitch Rubtsov, com mapas que detalham o andamento
da expedição. Os mapas são
quase abstratos, situação potencializada pela escrita russa,
e nada deixam a desejar a certo
tipo produção contemporânea.
Aliás, mesmo tendo como
objetivo fundamental o registro científico, os protagonistas
da expedição na mostra, Rugendas, Florence e Taunay, podem ser vistos como autores
que transitam entre arte e ciência de forma surpreendente. Há
aquarelas de Rugendas que se
aproximam da expressão moderna. Já uma série sobre a tipologia humana, realizada por
Florence, retrata índios, negros
e brancos com um olhar bastante contemporâneo.
Como uma das formas de estímulo à produção atual são
justamente as residências artísticas, não é de se admirar que
"Expedição Langsdorff" apresente paralelos com a criação
atual, afinal, tendo durado oito
anos, ela também pode ser considerada uma residência.
EXPEDIÇÃO LANGSDORFF
Onde: CCBB (r. Álvares Penteado, 112,
tel. 0/xx/11/3113-3651)
Quando: de ter. a dom., das 10h às 20h;
até 25/4
Quanto: entrada franca
Cotação: ótimo
Texto Anterior: Luiz Felipe Pondé: Ai que tédio, digo eu Próximo Texto: Morre, aos 95, o bibliófilo José Mindlin Índice
|