São Paulo, segunda-feira, 01 de março de 2010

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Crítica/"Expedição Langsdorff"

Mostra traz país pré-Independência

Expedição científica de oito anos no século 19 levou Rugendas e outros para registrar flora, fauna e tipos brasileiros

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Expedição Langsdorff", em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo, é uma exposição primorosa. Inaugura a renovação do espaço expositivo no segundo andar da instituição, que ganhou pé-direito mais alto e iluminação mais adequada, o que traz nova e correta dimensão às difíceis salas do local.
Com curadoria do russo Boris Komissarov, da Universidade de São Petersburgo, junto a Ania Rodriguez Alonso e Rodolfo de Athayde, a mostra aborda a quixotesca empreitada patrocinada pelo czar russo Alexandre 1º e capitaneada pelo alemão Georg Heinrich Von Langsdorff (1774 - 1852), realizada entre 1821 e 1829. Durante o período, Langsdorff teria ficado demente, o que possivelmente foi causado pela sífilis.
Toda a produção da expedição foi encaminhada à Rússia e desaparecida até 1930, quando foi encontrada nos porões do museu do Jardim Botânico de São Petersburgo. Parte do acervo pode agora ser visto em "Expedição Langsdorff", um mapeamento da fauna, flora, paisagens e tipos humanos brasileiros do período que se aproxima da independência do país.
A cenografia da mostra reforça o caráter científico da expedição, apresentando cerca de 180 desenhos, aquarelas e mapas dispostos em paredes como às dos museus de ciência e antropologia, além de outros dispositivos usados nesse tipo de ambiente, como pequenas vitrines, que tornam a observação mais adequada.
Enquanto a produção de Johann Moritz Rugendas, Aimé-Adrien Taunay e Hercule Florence já é, de certa forma, conhecida por aqui -o último está em cartaz na Pinacoteca do Estado, na mostra "Hercule Florence e Brasil"-, a revelação da mostra se torna o astrônomo e cartógrafo russo Néster Gavrílovitch Rubtsov, com mapas que detalham o andamento da expedição. Os mapas são quase abstratos, situação potencializada pela escrita russa, e nada deixam a desejar a certo tipo produção contemporânea.
Aliás, mesmo tendo como objetivo fundamental o registro científico, os protagonistas da expedição na mostra, Rugendas, Florence e Taunay, podem ser vistos como autores que transitam entre arte e ciência de forma surpreendente. Há aquarelas de Rugendas que se aproximam da expressão moderna. Já uma série sobre a tipologia humana, realizada por Florence, retrata índios, negros e brancos com um olhar bastante contemporâneo.
Como uma das formas de estímulo à produção atual são justamente as residências artísticas, não é de se admirar que "Expedição Langsdorff" apresente paralelos com a criação atual, afinal, tendo durado oito anos, ela também pode ser considerada uma residência.


EXPEDIÇÃO LANGSDORFF

Onde: CCBB (r. Álvares Penteado, 112, tel. 0/xx/11/3113-3651)
Quando: de ter. a dom., das 10h às 20h; até 25/4
Quanto: entrada franca
Cotação: ótimo




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