São Paulo, segunda, 1 de março de 1999

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Por uma Vida Menos Ordinária

LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto da Ilustrada

Quem acha que o amor não é apenas uma flor roxa tem compromisso com o simpático filme pop "Por uma Vida Menos Ordinária", à disposição nas melhores lojas do ramo dos vídeos.
O filme já se segura pela ficha técnica. Danny Boyle ("Cova Rasa" e "Trainspotting") na direção. Ewan McGregor (aquele) e Cameron Diaz (aquela) no elenco. Trilha sonora retumbante: de Oasis e Prodigy a Elvis Presley.
Mas, muito além de ser uma fábula romântica agradável com dois atores da hora, "Por uma Vida Menos Ordinária" marca a chegada a Hollywood da indústria cultural britânica e sua manifestação pop suprema que reinou nos meados desta década. E que fez Londres "suingar" novamente, da música à moda, das artes plásticas à literatura. E cinema.
O primeiro passo hollywoodiano foi laçar o escocês Danny Boyle, o diretor que realizou as duas produções britânicas mais significativas dos 90 até então.
O ano era 96. Boyle se via, de repente, no meio de um set de filmagem no Estado de Ohio.
A pedido de Boyle, a América importava ainda os fiéis escudeiros do diretor, seus patrícios Andrew MacDonald (produtor), John Hodge (roteirista) e o dândi Ewan McGregor (ator), também responsáveis por "Cova Rasa" e pelo fenômeno "Trainspotting".
Para não ficar um filme "só para inglês ver", Hollywood emprestava o monumento Cameron Diaz, nome forte que se firmava em comédias, na época em um estágio pós-"O Máscara" e pré-"Quem Vai Ficar com Mary?".
Assim, por trás da comédia romântica engraçadinha com a belezoca Diaz, Boyle colocava em embalagem americana cenas como Ewan McGregor voltando das compras cantando música do Oasis (a principal banda do britpop). Embalava cenas de ação com trilhas lisérgicas de Underworld e Prodigy (nomes fortes da música eletrônica britânica). Realizava tomadas que mais pareciam cenários figurativos tirados de um quadro de Lucian Freud. E permeava a história com discussões sobre a nova literatura (evocando tais como Nick Hornby e Alex Garland, escritores britânicos que sabem dar molho a histórias comuns).
Com sangue brit rolando nas veias, então, "Por uma Vida Menos Ordinária" é a história mezzo-clichê, mezzo-absurda de dois anjos enviados a essa dimensão terrena com a missão de promover uma paixão arrebatadora entre dois jovens (Diaz e McGregor), bem distintos nos âmbitos espiritual e material.
McGregor, um faxineiro "looser", que perde o emprego para um robô e leva um pé da namorada. Diaz, uma riquinha fútil que vive em atritos com o pai e cujo hobby é treinar tiro ao alvo em maçãs colocadas na cabeça de seus mordomos.
A união improvável começa a tomar forma quando McGregor, possesso com sua situação miserável, entra na sala de seu ex-chefe pronto para destruir o robô que tomou seu emprego. E sai dela sequestrando Diaz, que acontece de ser a filha do antigo patrão.
"Por uma Vida Menos Ordinária" é altamente recomendável para quem é chegado a uma comédia romântica inofensiva. Mas proibido para quem esteja esperando algo próximo de "Trainspotting".
²
Filme: Por uma Vida Menos Ordinária Produção: EUA, 1997 Direção: Danny Boyle Com: Ewan McGregor, Cameron Diaz, Holly Hunter Lançamento: Abril Vídeo (tel. 0800-120199)



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