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CRÍTICA
Grupo escapa do peso da cobrança e faz segundo disco despretensioso
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos clichês mais gastos na
música pop é aquele sobre
uma tal "síndrome do segundo
disco", que acometeria bandas
que estouram logo com o primeiro álbum e depois não conseguem
repetir o sucesso ou a qualidade.
Pois com o Interpol aconteceu o
contrário: ao lado de "Turn On
the Bright Lights", este "Antics" é
muito mais solto e despreocupado com convenções. Menos maduro -e tão bom quanto.
O disco chega ao Brasil com um
atraso considerável -foi lançado
nos EUA e na Europa há quase
seis meses.
Enquanto "Turn On the Bright
Lights" se mostrava mais pop,
mais imediato, com refrões fortes,
"Antics" é menos digerível. E, em
vez de qualquer pânico para lançar um segundo disco tão bom
quanto o primeiro, a banda parece ter entrado no estúdio sem
qualquer peso nos ombros; a produção do disco é econômica, sem
muitos truques ou efeitos; sem a
preocupação de impressionar.
Como em "Turn On...", o álbum
inicia com uma balada, "Next
Exit", tortuosa, densa. "Evil" muda a figura, com uma entrada de
baixo que lembra Nirvana.
Letra não é o forte do líder Paul
Banks. Vê-se isso em "Take You
on a Cruise: "Time is like a broken
watch / I make money like Fred
Astaire" (o tempo é como um relógio quebrado/ eu ganho dinheiro como Fred Astaire). A canção é
atmosférica, e a voz de Banks lembra bastante a de Ian Curtis
-mas não só; ele canta com intensidade, com vontade, o que faz
a comparação com o vocalista do
Joy Division bem relevante.
Mas posicionar o Interpol apenas como clone do JD é de um reducionismo rasteiro; a banda leva
consigo a arrogância de um Echo
& the Bunnymen, a urgência do
The Jam e praticamente todo o
período pós-punk.
"Slow Hands", que foi o primeiro single, já freqüenta pistas de
dança há uns sete meses. Guitarra
e baixo levam a canção, que tem
refrão pegajoso -talvez o único
do tipo em todo o disco.
"Not Even Jail" é o ponto alto do
álbum. Inicia com uma marcha
de bateria acompanhada pelo baixo. "Como ninguém, eu finjo tentar me controlar", canta Banks.
Em "C'Mere", a referência pode
ser tanto Smiths quanto Pixies
quanto qualquer coisa no meio
disso, assim como "Lenght of Love". E é esse desprendimento, que
permeia todo o álbum, que empresta charme e interesse ao quarteto nova-iorquino.
"Antics" daria um ótimo primeiro disco do Interpol. Que bom
que está chegando agora.
Antics
Artista: Interpol
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 30, em média
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