São Paulo, sexta-feira, 01 de abril de 2005

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CRÍTICA

Grupo escapa do peso da cobrança e faz segundo disco despretensioso

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos clichês mais gastos na música pop é aquele sobre uma tal "síndrome do segundo disco", que acometeria bandas que estouram logo com o primeiro álbum e depois não conseguem repetir o sucesso ou a qualidade. Pois com o Interpol aconteceu o contrário: ao lado de "Turn On the Bright Lights", este "Antics" é muito mais solto e despreocupado com convenções. Menos maduro -e tão bom quanto.
O disco chega ao Brasil com um atraso considerável -foi lançado nos EUA e na Europa há quase seis meses.
Enquanto "Turn On the Bright Lights" se mostrava mais pop, mais imediato, com refrões fortes, "Antics" é menos digerível. E, em vez de qualquer pânico para lançar um segundo disco tão bom quanto o primeiro, a banda parece ter entrado no estúdio sem qualquer peso nos ombros; a produção do disco é econômica, sem muitos truques ou efeitos; sem a preocupação de impressionar.
Como em "Turn On...", o álbum inicia com uma balada, "Next Exit", tortuosa, densa. "Evil" muda a figura, com uma entrada de baixo que lembra Nirvana.
Letra não é o forte do líder Paul Banks. Vê-se isso em "Take You on a Cruise: "Time is like a broken watch / I make money like Fred Astaire" (o tempo é como um relógio quebrado/ eu ganho dinheiro como Fred Astaire). A canção é atmosférica, e a voz de Banks lembra bastante a de Ian Curtis -mas não só; ele canta com intensidade, com vontade, o que faz a comparação com o vocalista do Joy Division bem relevante.
Mas posicionar o Interpol apenas como clone do JD é de um reducionismo rasteiro; a banda leva consigo a arrogância de um Echo & the Bunnymen, a urgência do The Jam e praticamente todo o período pós-punk.
"Slow Hands", que foi o primeiro single, já freqüenta pistas de dança há uns sete meses. Guitarra e baixo levam a canção, que tem refrão pegajoso -talvez o único do tipo em todo o disco.
"Not Even Jail" é o ponto alto do álbum. Inicia com uma marcha de bateria acompanhada pelo baixo. "Como ninguém, eu finjo tentar me controlar", canta Banks.
Em "C'Mere", a referência pode ser tanto Smiths quanto Pixies quanto qualquer coisa no meio disso, assim como "Lenght of Love". E é esse desprendimento, que permeia todo o álbum, que empresta charme e interesse ao quarteto nova-iorquino.
"Antics" daria um ótimo primeiro disco do Interpol. Que bom que está chegando agora.


Antics
    
Artista: Interpol
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 30, em média


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