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"EVERYTHING'S OK"
Al Green abençoa a alcova dos justos
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Al Green deve ser canonizado, mesmo que sua religião
não lhe permita. Papa do soul nos
anos 70, o pastor protestante prova que sua definitiva volta ao
showbiz, iniciada em 2003 com "I
Can't Stop", é para ficar. E aleluia,
irmãos!, ele segue convidando à
carne no novo "Everything's OK".
A obra do reverendo Al Green
(como ele se chama neste CD)
sempre foi um poço de más intenções. Ao som dele, muita menininha decidiu que a hora havia chegado. Hoje, o mundo vive uma inversão de valores, e a missão deste
"Everything's OK" é necessária:
abençoar a alcova dos justos.
Na primeira faixa (que meu editor recomenda ouvir de joelhos),
Al Green decreta o título do disco,
porque a partir de agora tudo será
OK. "Eu quero voltar para casa,
baby/ Aqui fora tudo está errado,
baby." Ou seja, prepare a alcova,
que o bicho vai pegar.
Malandro, consciente de que
para endurecer não é preciso perder a ternura, Green emplaca em
seguida uma versão do clássico
soul "You Are So Beautiful", célebre com Joe Cocker.
A partir daí, o restante das 12
canções do CD é do próprio reverendo, que deita sua voz -o falsete, que beira o pornográfico,
continua o mesmo dos anos 70-
sobre um forro que se refere à toda sua trajetória. Das cordas aos
ataques de metais, a produção assinada por ele e Willie Mitchell,
seu velho parceiro, busca a atmosfera de clássicos como "Call Me"
(1973) e "Al Green Is Love" (1975),
sem outra ambição que não fosse
fazer o povo se amar.
E conseguem. Mesmo reeditando as velhas fórmulas, as canções
de Green e Mitchell são provocantes; têm um viço que provavelmente vem da fé que o cantor
sempre depositou em seu soul.
Mesmo antes de ingressar no seu
ministério, o cantor do Arkansas
soube combinar a vitalidade do
gospel sulista com toda a sexualidade dos ritmos negros seculares.
Em vez de tornar sua música
uma pregação inadequada para as
pistas, sua devoção o leva a cantar
de corpo e alma. Em vez de emitir
notas desnecessárias por puro
virtuosismo, Green parece conhecer precisamente o ponto G de
ouvidos masculinos e femininos.
No meio de todo o erotismo,
ainda existe espaço para alguma
leve metafísica religiosa, na excelente "Magic Road", mas a tônica
mesmo é um disco para se ouvir
acompanhado e suando e que nos
lembra de agradecer a Deus pela
possibilidade do orgasmo. Venha
ele ou não.
Everything's OK
Artista: Al Green
Lançamento: Blue Note/EMI
Quanto: R$ 35, em média
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