São Paulo, terça-feira, 01 de abril de 2008

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Documentário vê Paulo Gracindo "de filho para pai"

Obra de Gracindo Jr. lembra "fugas" da juventude e papéis marcantes da maturidade

Em depoimento, Fernanda Montenegro diz que "havia nele uma esquizofrenia muito interessante'; filme passa no É Tudo Verdade

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Não sei por onde vou/ Não sei para onde vou/ Sei que não vou por aí!" Declamados na TV por um Paulo Gracindo (1911-1995) maduro, os versos finais de "Cântico Negro" são um testemunho de seu grito de emancipação juvenil: cansado de "viver aprisionado pelo amor" do pai, ele partiu do casarão alagoano da família rumo a Recife antes dos 18 anos e, pouco depois, na carona do movimento tenentista, foi bater no Rio.
Em primeira pessoa, o relato das duas "despedidas" abre o documentário "Paulo Gracindo - O Bem Amado", exibido hoje no braço paulista do festival É Tudo Verdade. A voz que narra aflições e incertezas púberes é de Gracindo Jr., filho do homenageado e diretor do filme.
"Tento falar por ele. Como o meu pai deu muitos depoimentos sobre esse período a revistas, resolvi vocalizá-los. Além disso, existia uma grande semelhança vocal entre nós; gosto dessa coisa meio confusa [de não se saber se quem fala é o pai ou o filho]."
A costura de fotos, vídeos caseiros, depoimentos de colegas e trechos de filmes e novelas em que Paulo atuou consumiu cerca de três anos, mas o diretor acha que "estava devendo isso a papai" há pelo menos 13 (data de sua morte). "Ele conta, melhor do que ninguém, o que foi ser ator no Brasil dos anos 30 até hoje, do teatro de revista à televisão", diz o diretor.

Do rádio ao "Bem Amado"
No filme, Paulo desfila sua versatilidade em registros que lembram desde o galã promissor da radionovela "O Direito de Nascer" até a consagração definitiva com o Odorico Paraguaçu de "O Bem Amado", passando pelos papéis nos filmes "A Falecida" (1965) e "Terra em Transe" (1967).
Também comparece o "primo rico", que atordoava o parente pobre (Brandão Filho) com lamúrias frívolas. O personagem, descobre-se, foi inspirado no sogro de Paulo, morador de um palacete carioca.
"Havia nele uma esquizofrenia muito interessante. Era uma festa e, na hora da ação, entrava um monstro de um ator altamente preparado e com uma bagagem de estudo sobre o seu papel que nunca vi", diz a certa altura Fernanda Montenegro, colega em "A Falecida" e "Tudo Bem" (78).
É também ela que, ao ler "O Caso do Vestido" (em que se narra a história de um chefe de família que abandona o lar), de Carlos Drummond de Andrade, dá a senha para o segmento que trata da vida íntima do Paulo.
"Papai nunca se ausentou, mas tinha uma vida de alguém de sua geração. Quis colocar isso da forma mais poética e elegante possível. Sabia dos pecadilhos dele, mas o via como um romântico", diz Gracindo Jr.


PAULO GRACINDO - O BEM AMADO
Quando:
hoje, às 19h
Onde: Cinesesc (r. Augusta, 2.075, tel. 0/xx/11/3087-0500)
Quanto: grátis


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