BARBARA GANCIA
Colunista da Folha

Na última sexta, com quase um ano de atraso em relação aos EUA, o canal de TV paga Sony exibiu o polêmico episódio da série "Ellen", em que Ellen Morgan e Ellen DeGeneres saem juntas do armário.
Se você não está familiarizado com "sitcoms" americanos ou com os jargões de minorias condenadas pela igreja, convém botar ordem no poleiro: sair do armário é a expressão usada pelos americanos para definir o ato de tornar pública a homossexualidade.
Ellen Morgan e Ellen DeGeneres vêm a ser a mesma pessoa. A primeira é a personagem principal do seriado estrelado pela segunda, uma das melhores comediantes da TV globalizada na atualidade.
Capa da "Time" à época de seu "outing" (mais uma expressão que equivale a subir na mesa de docinhos do batizado do sobrinho e gritar: "Sou gay!"), Ellen DeGeneres abriu uma fenda na história da TV ao revelar sua preferência sexual em horário nobre.
Para entender o tamanho da encrenca em que DeGeneres se meteu, basta lembrar que, cerca de seis anos atrás, Dan Quayle, então vice-presidente dos EUA, fez um inflamado discurso para criticar a conduta de Murphy Brown, a repórter vivida por Candice Bergen no seriado homônimo, que teve um filho fora do casamento na cara do pudico telespectador norte-americano.
Vale lembrar também que "Ellen" é produzido e distribuído pela Disney, o maior bastião do entretenimento dito "familiar" do planeta.
A personagem Ellen Morgan saiu do armário como a mãe daquela piada do gato que subiu no telhado: aos poucos.
Qualquer pessoa munida de um par de neurônios que tenha acompanhado o seriado desde o início percebeu que Ellen não é uma moça comum.
Gerente de uma loja de livros, ela vive rodeada de amigos, mas nunca aparece com um namorado. E vive se autodepreciando quando o assunto em pauta é sua vida emocional.
No episódio em que ela declara à Susan, a produtora gay de TV encarnada por Laura Dern, que é sapa, Ellen conta com o ombro amigo da psicóloga. E como a Disney não é boba nem nada e não quis matar de infarto todo o midwest americano, a escolhida para interpretar a psicóloga foi nada menos do que Oprah Winfrey. Na vida real, a apresentadora mais carola da América.



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