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MÚSICA
Líder do trio alemão, que se apresenta hoje em São Paulo, diz que o tecno está ligado ao nazismo em seu país
Atari Teenage Riot faz revolução pós-tudo
MARCELO NEGROMONTE
free-lance para a Folha
Pense em Ministry. Em Nine
Inch Nails. Somados, soam como
Barbra Streisand, se comparados
com a avassaladora massa sonora
pós-tudo que sai dos amplificadores eletrorrevolucionários do trio
alemão Atari Teenage Riot, que se
apresenta hoje em São Paulo.
O show de abertura fica a cargo
do Caustic, projeto paralelo do
não menos insano DJ Loop B, que
se apresentou no BoomBahia Festival no mês passado.
Curitiba (amanhã), Londrina
(dia 3), Belo Horizonte (dia 4) e
Rio (dia 5) são as próximas paradas do hardcore digital do Atari
Teenage Riot, trazido pela produtora mineira Motor Music.
Oriundo e dissidente da cena
tecno alemã, Alec Empire, 25,
anarquista, subversivo, líder do
Atari Teenage Riot, falou à Folha
por telefone, de Berlim, sobre nazismo, tecno, alienação e Internet.
Folha - Como a Internet -a mais
livre das mídias- poderia ser uma
forma de controle totalitário?
Alec Empire - Talvez não seja
ainda, mas pode vir a ser. Acho
que há um perigo, no nível político, no fato de se disseminar informações tão rápida e facilmente
com alcance global. Isso tira as
pessoas do mundo real, e em vez
de interagir com a vizinhança onde vivem, gastam seu tempo navegando na rede, talvez por insegurança.
Eu acho que nos 90 o paraíso está
além da TV e Internet. As pessoas
estão perdendo contato com a realidade. Não há ação, e é isso que eu
critico na Internet. É a religião dos
estúpidos.
Folha - Porque você, que veio da
cena tecno alemã, entrou em choque com ela?
Empire - O tecno se tornou algo
muito alienante e voltado à direita
na Alemanha. A cena tecno não
tem nada a dizer e está muito ligada ao nacionalismo alemão. Um
dos DJs mais conhecidos aqui, que
promove a Love Parade (Dr. Motte), disse em público que os judeus
deveriam calar a boca e parar de se
lamentar porque ganharam muito
dinheiro depois da guerra. E no dia
seguinte, milhares de pessoas vão
à festa dele.
Folha - Em que sentido o tecno
-que você usa no seu som- e as
raves (grandes festas tecno) são
alienantes?
Empire - Acho que as pessoas
estão começando a perceber que
até dá para frequentar raves e congêneres por uns dois anos, mas isso não leva a lugar algum. Acho
que se pode ter mais diversão que
dançar e tomar drogas, que é o nível mais baixo de entretenimento.
Folha - Você acha que as raves
têm caráter nazista?
Empire - Quanto mais as raves
ficam populares, mais parecidas
elas ficam com a juventude hitlerista, que se reunia aos finais de semana para praticar esportes e coisas do gênero. A idéia era direcionar as energias para o nada. O
mesmo acontece com as raves
-essas verdadeiras prisões do
prazer-, em que todos se divertem, mas na segunda-feira estão
trabalhando de novo. É uma maneira de dizer sim ao sistema. Acho
perigosa uma vida em que você
trabalha, acorda, se diverte -entupido de ecstasy, dançando como
um zumbi- e volta a dormir.
Folha - E qual é o papel do ATR
nessa história?
Empire - O que queremos
quando tocamos ou fazemos discos é que as pessoas se sintam vivas. E isso, às vezes, só acontece
quando elas são confrontadas com
uma música imprevisível, o que
para muitos é um choque, positivo
ou negativo. Com o tecno é possível interpretar qualquer tipo de
idéia com as letras. Há muito
mal-entendido, pois alguns acham
que fazemos dogmatismo porque
usamos muitos slogans, e isso é
confundido com pregação.
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