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CRÍTICA
Filme enrosca na "armadilha do roteiro"
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Quando lançou nos EUA o
filme que marca sua estréia
na direção, George Clooney
adiantou-se às críticas ao comentar que "Confissões de uma Mente Perigosa" seria, provavelmente,
criticado pelo excesso de direção.
Não há como desmenti-lo:
"Confissões" é um amontoado de
imagens saturadas, idéias de mise-en-scène mal alinhavadas e cenas fora de tom, combinação que
dificilmente deixa de esgotar a paciência do espectador. Sem dúvida, Clooney peca pelo excesso,
mas, para um diretor estreante, o
pecado não chega a ser dos maiores. Responsabilizar Clooney pelo
fracasso de "Confissões" seria cair
numa armadilha, a armadilha do
roteiro de Charlie Kaufman.
Kaufman ("Quero Ser John
Malkovich", "Adaptação") é desses roteiristas que parecem ainda
não terem encontrado um diretor
à altura de seu talento. Os filmes
que partem de seus roteiros dão
sempre a impressão de estar
aquém do potencial dos originais,
mas é bem possível que sejam estes a estar aquém do próprio potencial: Kaufman tem boas sacadas, mas não parece ser dos mais
desenvoltos, é brilhante nos efeitos, mas negligente nas causas, o
que quer dizer apenas que não teria a menor chance se trabalhasse
na indústria cinematográfica
americana de meio século atrás.
Como trabalha na Hollywood de
hoje, ele é considerado gênio.
Era presumível que Clooney, filho de um apresentador de
talk show, se deixasse atrair por
um roteiro baseado nas memórias de Chuck Barris, "o apresentador mais descarado e desprezível da TV americana". Menos
presumível era a aparição de
Clooney como um agente da CIA
encarregado de treinar Barris para ser um matador profissional.
O que parece mais uma invencionice de Kaufman não passa da
última cartada de Barris: em suas
memórias, ele sugere que suas atividades de "showman" eram intercaladas com as de "hitman"
(matador). Pura ficção, a julgar
pelo filme.
Misturando pseudo-documentário com ficção de gêneros diversos (sátira de bastidores, thriller e
drama psicologizante), Kaufman
talvez ambicionasse transformar
o material numa espécie de "Cidadão Barris". Mas nem ele é Herman Mankiewicz nem Clooney é
Orson Welles.
Confissões de uma Mente
Perigosa
Confessions of a Dangerous Mind
Produção: EUA/Canadá/Alemanha,
2002
Direção: George Clooney
Com: Sam Rockwell, Drew Barrimore
Quando: a partir de hoje nos cines
Cineclube DirecTV, Jardim Sul e circuito
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