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Abujamra vende a alma ao diabo
DA REPORTAGEM LOCAL
"Eu sou Mephistópheles desde
sempre", anuncia o homem de
corpo arqueado, bastas sobrancelhas, sorriso colérico, a convencer
o interlocutor de que, "como todo
mundo", ele também gostaria de
vender sua alma ao diabo.
A partir de hoje, Antônio Abujamra, 71, veste a capa do personagem que travou aposta com
Deus para tentar Fausto na retidão científica, racional, e conduzi-lo às vias do prazer.
Também um personagem de si,
sobretudo no período de "tensão
pré-estréia", como diz, Abujamra
tinha o romance de Goethe esperando há anos na lista de projetos
teatrais. Ele o faz agora, na nova
produção do Teatro Popular do
Sesi (orçado em R$ 450 mil, segundo a Folha apurou), em São
Paulo, adaptando o texto, dirigindo a encenação e interpretando o
papel que emana ocultismos e bufonarias que já serviram de metáforas ao cinema e à literatura.
"Quero mostrar que Mephistópheles tem uma alegria, e que provavelmente todos venderiam sua
alma a ele", discursa Abujamra.
Além de Fernando Pessoa e
Paul Valéry, poetas com os quais
alinha o clássico de Goethe, à sua
moda, o ator realiza algumas provocações: faz o místico Fausto envenenar-se literalmente pela sedução de Margarida. Ou leva o
mesmo personagem a noitadas de
orgia para desfrutar erotismo.
"A cabeça não é nada, vá às sensações", aconselha-o Mephistópheles. Segundo Abujamra,
"Goethe continuará sendo melhor do que os diretores que o encenam". O alemão Peter Stein
montou o texto há cerca de três
anos. A francesa Ariane Mnouchkine, do Théâtre du Soleil, adaptou o livro do alemão Klaus
Mann, "Mephisto", cuja versão
cinematográfica, nos anos 80, foi
feita pelo húngaro István Szabó.
Na raiz de tudo, está a obra de
Johann Wolfgang von Goethe.
(1749-1832), inspirada na lenda
alemã dos séculos 15 e 16. A obra-prima teve versões, como "Fausto
Zero" e "UrFaust", o Fausto Um,
antes do formato derradeiro.
As atrizes Selma Egrei (Fausto)
e Mariana Muniz (Margarida)
contracenam com Abujamra em
"Mephistópheles". Imagens projetadas em vídeo, a música de André Abujamra, filho, e a parceria
com o diretor Hugo Rodas, de
Brasília, ajudam Abujamra, pai, a
traduzir em cena a sua concepção
para o romance de Goethe.
"No final do espetáculo, eu, Mephistópheles, digo que a razão é
muito menor que a imaginação; a
razão não quer nada, a imaginação quer tudo", diz o ator.
(VS)
MEPHISTÓPHELES - de: Johann
Wolfgang Goethe. Tradução, adaptação
e direção: Antônio Abujamra. Com:
Abujamra, Selma Egrei e Mariana Muniz.
Onde: Teatro Popular do Sesi (av.
Paulista, 1.313, SP, tel. 0/xx/11/3146-7406). Quando: estréia hoje; de sex. a
dom., às 20h. Quanto: entrada franca
(retirar ingressos com uma hora de
antecedência).
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