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Crítica/"Invisível"
Trama engenhosa revela análise banal sobre as "injustiças" do mundo
ALCIR PÉCORA
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Invisível" se divide em
quatro partes, cada
uma destinada a provocar peripécia na anterior. A
primeira, passada em 1967, em
Nova York, é narrada por Adam
Walker, estudante da Universidade de Columbia. Certa noite,
é abordado por Rudolf Born,
um professor com cara igual à
de todo mundo ("invisível"),
mas cheio de ideias belicistas e
bizarras. Fazem amizade, que
só dura até Adam perceber a vileza real de Born.
Na segunda parte, já em
2007, o narrador é Jim Freeman, um escritor consagrado
que recebe uma inesperada
carta de Walker, seu colega em
Columbia, há 40 anos. Era um
convite para visitá-lo, acompanhado do relato que já lemos na
primeira parte. Dias depois,
chegam mais escritos. Referem-se ainda a 1967, depois que
Born volta à França, mas revelam, agora, a relação incestuosa
entre Walker e a irmã.
No dia da visita combinada,
Jim fica sabendo que Walker
morrera, não sem lhe deixar
novas páginas de memórias - a
terceira parte. Contam o que
ocorrera em Paris, quando
Walker reencontra Born e alerta sua noiva, Hélène, e a filha,
Cécile, sobre a crueldade dele.
A última parte mostra Jim indo
a Paris, em 2007, para encontrar Cécile, que lhe entrega o
diário onde anotara o seu último encontro com Born. Muito
gordo, vivia agora cercado de
serviçais negros, no topo de
uma ilha caribenha, alucinado,
e com planos de escrever suas
terríveis memórias.
A questão que não quer calar
é: o que justifica todas essas
idas e vindas no tempo, além
das trocas de narradores? Auster parece supor que isso ajuda
na revelação da grave questão
da "injustiça" do mundo, em
particular, da "herança colonial". Aliás, todos os conflitos
recentes da história desfilam
no livro. Entram por uma linha
e saem por outra, como uma lista genérica de desastres e desvarios, sem chegar a compor
um simples relato convincente
sobre a dor ou a guerra.
Born
tampouco se aguenta como
versão do Kurtz, de "O Coração
das Trevas", que suspeito ter
inspirado Auster. Era melhor
ter ficado no incesto, e pronto.
ALCIR PÉCORA é professor de
teoria literária na Unicamp
INVISÍVEL
Autor: Paul Auster
Tradução: Rubens Figueiredo
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 47,50 (280 págs.)
Avaliação: regular
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